O ex-policial penal Jorge Guaranho foi condenado, nesta quinta-feira (13), a 20 anos de prisão em regime inicial fechado pelo assassinato do guarda municipal petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu, em 2022. A sentença foi lida pela juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler no terceiro dia do julgamento, que aconteceu no Tribunal do Júri de Curitiba. A defesa deverá recorrer da sentença.

Guaranho deve cumprir a sentença imediatamente após o julgamento, conforme decisão de setembro do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte entendeu que o cumprimento imediato da pena não viola o princípio da presunção de inocência. O réu estava em prisão domiciliar desde o final do ano passado e chegou ao Tribunal do Júri usando muletas.

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O tesoureiro do PT Marcelo Arruda e o ex-policial penal Jorge Guaranho – Foto: Reprodução

O ex-policial foi condenado por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil (divergência política) e perigo comum (tiros disparados em um ambiente com outras pessoas). Ele não respondeu as perguntas do Ministério Público. “Havia muitas perguntas que toda a sociedade paranaense queria fazer”, afirmou a promotora de Justiça Ticiane Pinheiro.

Foram ouvidas nove testemunhas nos dois primeiros dias de julgamento, entre elas familiares e amigos de Marcelo Arruda. Após os depoimentos, houve a fase de debate entre a defesa e a acusação. Em seguida, o Conselho de Sentença decidiu pela condenação dele.

A defesa de Guaranho sustentou que o assassinato do tesoureiro do PT Marcelo Arruda não teve motivação política, enquanto a acusação afirmou que há provas suficientes nos autos que demonstram o contrário. O embate entre as versões marcou o julgamento do réu.

Para os advogados de defesa, a tese de crime político foi uma “construção” na época dos fatos e não condiz com as provas do processo. Eles também ressaltam que Guaranho foi agredido e baleado no dia do ocorrido. Além disso, afirmam que o réu não se lembra da época do crime, em função das sequelas que sofreu na data.

Investigações apontam que Marcelo Arruda reagiu aos tiros de Jorge Guaranho – Foto: Reprodução

“O Jorge não lembra absolutamente nada daquele dia. Isso tem que deixar claro. Tudo que ele sabe é o que foi reportado a ele pelo estudo do processo. Ele sofreu pancadas e disparos de arma de fogo. Ele tem projétil alojado no cérebro. Tem sequelas irreversíveis de caráter neurológica e cognitiva”, disse um dos advogados de defesa, Samir Mattar Assad, em entrevista à imprensa na quarta (12).

Já a acusação argumenta que a motivação política está comprovada por vídeos e publicações nas redes sociais, que mostrariam o réu agindo com intolerância em relação à vítima. Segundo os relatos à polícia na época, o ex-policial penal passou de carro em frente ao salão de festas dizendo “aqui é Bolsonaro” e “Lula ladrão”, além de proferir xingamentos. Laudo técnico aponta ainda que Guaranho gritou “petistas vão morrer” ao atirar contra o tesoureiro.

“Na verdade, nós presenciamos um milagre na medicina ou de alguém que está acima de nós. Porque ele diz desde o início que não se lembrava de nada, e ontem casualmente se lembrou de detalhes, situações que evidentemente tentaram favorecê-lo, mas não passou credibilidade, empatia”, afirmou o assistente de acusação, Daniel Godoy.

O crime

Marcelo Arruda foi assassinado em sua própria festa de aniversário de 50 anos, em julho de 2022. A comemoração tinha como tema o então candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O crime ocorreu meses antes das eleições presidenciais, e Jorge Guaranho apoiava o então candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Além disso, ele teria baixado e reproduzido músicas sobre o então presidente, da campanha eleitoral de 2018, 30 segundos antes de chegar ao local.

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Câmera registrou momento em que Jorge Guaranho atirou contra Arruda – Foto: Reprodução

“Quando cheguei, parei meu carro, e o Marcelo chegou perto de mim e me xingou. Não me xingou, xingou a música, falou palavrão da música”, relembrou Guaranho durante o segundo dia de julgamento.

No salão de festas, houve uma troca de tiros entre Arruda e Guaranho. Segundo apontam as investigações, o petista reagiu aos disparos após o ex-policial penal invadir a festa. Marcelo chegou a ser socorrido com vida, mas morreu durante a madrugada do dia 10 de julho.