O júri do empresário Onildo Chaves Cordova II, acusado da morte do fiscal de combustíveis Fabrizzio Machado da Silva, foi adiado. O julgamento, que estava marcado para esta quarta-feira (28), agora não tem data para acontecer. Junto disso, os advogados que representam o réu entraram com um pedido de afastamento do juiz Thiago Flores, alegando suspeição. Onildo, por sua vez, diz que ele é o mais interessado em que o júri aconteça, pois quer provar que não tem ligação com o crime.
Segundo o advogado Adriano Bretas, um dos que trabalha na defesa de Onildo, o adiamento do júri mostrou o que vem sendo dito pela equipe desde o começo: há falhas no processo.
“Mais uma arbitrariedade do juiz Thiago Flores é corrida. Recapitulando: ele tirou os advogados do plenário, os advogados foram reabilitados. Ele caçou a palavra dos advogados, a OAB disse que houve violação de prerrogativas. Ele mudou os advogados, os advogados recorreram. Ele prendeu o acusado, houve a concessão de habeas corpus. Agora ele designou o júri e o tribunal determinou a suspensão do julgamento”.
Em resumo, Bretas disse que isso significa que o processo está errado, que existem imperfeições que precisam ser corrigidas.
“O julgamento estava sendo feito de maneira precipitada, e nós precisamos colocar um freio para que possamos sanar todas essas questões, a fim de que o julgamento seja levado ao final. O juiz é suspeito, nós opusemos uma exceção de suspeição e isso precisa ser visto antes de ser levado a julgamento o caso”.
Adriano Bretas disse também que Fabrizzio “servia interesses privados frente à administração pública”.
“O que acontecia é que Fabrizzio teve relações perigosas, flertou com o perigo e estava, infelizmente, enfrentando grandes interesses de um lado e de outro lado acabou por prejudicar grandes pessoas. Onildo é trazido ao banco dos réus para abafar os verdadeiros culpados na morte. Ele é inocente e nós vamos mostrar isso”.
O advogado também destacou que o celular de Fabrizzio, que poderia ser uma prova para toda a investigação, passou despercebido.
“Falha é pouco, o que houve ali foi uma fraude criminosa ao se subtrair elementos de tamanha importância como por exemplo o celular de Fabrizzio. A pergunta que não quer calar é: a quem interessava esconder de Fabrízzio? O que o celular continha? Quais as conversas, os diálogos e as informações que ali existiam e que precisaram ser varridas para debaixo dos tapetes? Essas e outras informações haverão de ser trazidas ao julgamento”.
Procurado, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJ-PR) não comenta casos específicos. Sobre o pedido de afastamento, isso deve ser analisado internamente e, se houver necessidade de substituição, será indicado no processo.
Onildo alega inocência
Enquanto ainda acreditava que começaria a ser julgado nesta semana, Onildo Chaves Cordova II disse, em entrevista, que queria provar a inocência. Ele alega que vem passando pela pior fase da vida dele desde o crime.
“Perdi minha esposa, perdi patrimônio, saúde física e mental, fui preso injustamente. Perdi a credibilidade perante a sociedade, perante a diversas mídias que me colocaram como culpado desse crime. Eu quero ter a oportunidade de, no julgamento, mostrar a verdade da história, quem é o Onildo, uma pessoa que veio do interior, humilde, de princípios, que nunca teve nenhuma autuação nos postos que já tive”.
O empresário contou que começou a trabalhar em 2007 e seu primeiro posto foi financiado.
“Comecei do zero, e nunca tive uma autuação que me causasse qualquer prejuízo. Meus postos sempre foram modelos, exemplos. Até hoje o meu único posto que me sobrou é referência na região. Eu mais do que ninguém quero que esse julgamento aconteça para que eu possa finalmente ter a verdade contada e mostrada a minha inocência junto aos meus advogados”.
Sobre o que o levou a ser indicado como principal suspeito de ser o mandante do crime, Onildo disse que, na visão dele, foi usado. Ele reforçou ser inocente.
“Eu era um inocente útil. Era uma espécie de senha da delegacia para poder ser absolvido, porque as três pessoas que me colocam como mandante vão a juízo, na frente da juíza, e voltam atrás falando que não falaram. Acredito que a investigação foi direcionada para mim, por interesses que eu não sei quais são, mas que meus advogados vão comprovar em julgamento. Temos provas muito robustas para comprovar e colocar no banco dos réus quem realmente deve e quem realmente mandou matar o Fabrízzio. Eu sou inocente de todas essas acusações e mais do que ninguém quero provar isso”.
Fabrizzio atuava como presidente da Associação Brasileira de Combate a Fraudes de Combustíveis, e foi morto em 23 de março de 2017, quando chegava de carro em casa. Ele investigava, na época, um esquema de fraudes em postos de combustíveis.
Onildo disse que, na época, seus postos também foram investigados. Mas ele foi absolvido. Segundo o empresário, ele sequer conhecia o fiscal.
“Eu fui investigado [na operação pane seca] e fui absolvido em todas as investigações, na época eu tinha dois postos, em todas as investigações meus advogados me absorveram porque não tinha nenhuma irregularidade. Eu estava sendo monitorado por seis meses, com celulares grampeados, meus e dos meus funcionários, e nunca existiu nenhuma referência ao Fabrízzio. Eu nunca conheci o Fabrízzio, fui conhecer após a morte. E eu mais do que ninguém tenho interesse em esclarecer isso à sociedade e mostrar a verdade dos fatos num julgamento justo para que os jurados possam ter acesso a toda a história e a verdade do que aconteceu”.
Na época da investigação, uma informação contra Onildo foi a de que uma pessoa teria dito aos investigadores que o esperava no posto para receber o dinheiro que seria pago pelo crime. Ele nega, inclusive, dizendo que nem em Curitiba estava.
“É uma outra mentira que foi contada e que o delegado não teve nem o cuidado de verificar que no dia que essa pessoa fala que estava no meu posto eu estava fora do Brasil,estava a 6.500 km daqui, estava preparando meu casamento, no México. Estava longe daqui, é humanamente impossível eu estar lá nesse dia. Na área onde eles alegam que tinham erbs que está vinculado ao meu posto de gasolina tinham mais 16 postos de gasolina e uma churrascaria de outro acusado que não foi investigado. Temos provas muito robustas, dezenas delas, as quais mostraremos que comprovam minha inocência”.
“Precipitação”, diz advogado
O advogado Claudio Dalledone Jr, que também representa Onildo, sustenta que o processo foi precipitado. Segundo ele, houve uma pressa em se eleger um culpado.
“Quando nós temos uma eleição de culpados, temos aí a fuga da Justiça. A Justiça foge quando se busca um culpado de maneira precipitada. São questões desconexas dentro desse processo, linhas de investigação que não se fecham e que não encontram lógica em momento nenhum. Não conseguem dar a quem lê e interpreta o processo que o Onildo teve algum tipo de vantagem em mandar matar Fabrízzio. As coisas não se encaixam e aí começam a se explicar porque o impedir de a defesa atuar, porque jogar ao cárcere o Onildo mais de quatro vezes. Uma investigação serve para definir eventuais hipóteses acusatórias que possam chegar a um culpado, ela não define situações, o que vai definir é o julgamento”.
Dalledone reforçou que a defesa confia na Justiça, e destacou que assim que o julgamento for remarcado, vai provar que Onildo não foi culpado.
“Nós acreditamos na Justiça e acreditamos no julgamento. Temos grandes interesses envolvendo tudo isso, esses grandes interesses serão revelados. Se faz uma força muito grande para que os advogados não possam atuar, para que sejam violados na prerrogativa de exercer sua função”.
Família
Diante da decisão do Tribunal de Justiça, o advogado que representa a família de Fabrizzio, Luís Roberto de Oliveira Zagonel, disse entender a cautela para a continuidade do processo.
“Esse mandado de segurança vai analisar se dois dos advogados podem ou não compor a banca de defesa e, após isso, a nova sessão será marcada. Aguardamos ansiosamente a resolução do mandado de segurança, para, posteriormente, termos uma nova data. Estamos convictos que, quando o júri for realizado, Onildo será condenado. Temos uma robustez imensa, que apontam sem sombra de dúvidas, que ele é o autor do crime. Aguardamos a justiça ser feita. Ela está tardando, mas não irá falhar”, afirmou.