A Universidade Federal do Paraná (UFPR) instaurou um processo de investigação para apurar a recepção de calouros de um curso da instituição que ocorreu nesta quinta-feira (25), no bairro Jardim das Américas, em Curitiba (PR).
Vídeos obtidos pela Banda B, que foram enviados por uma testemunha — que prefere não ser identificada por medo de represálias —, mostram calouros em fileira, sem roupas e sujos com uma espécie de pó branco. A cena é vista por estudantes, sendo que alguns deles usam capas de chuva e têm os rostos cobertos por panos.
Em outro registro, os calouros aparecem virados de costas e alguns deles sem camisa. Todos os vídeos foram gravados da janela de um edifício, com o trote acontecendo em um terreno visivelmente vazio.
De acordo com a testemunha ouvida pela reportagem, os veteranos do curso usaram animais mortos e até um porco durante o trote.
“Foi levado um porco e os alunos tiveram que beijá-lo. Eles levaram tapas no rosto, tiveram que ficar em posição de cócoras e, em momento algum, [os veteranos] se sentiram ameaçados ou pararam”, afirmou a testemunha.
A mulher afirmou ter questionado os envolvidos sobre as cenas presenciadas, mas teria sido informada que os calouros assinaram um termo antes de participar da recepção. “Quando eu os questionei, falaram que todo mundo já sabia e que eles estavam ali porque haviam assinado um termo, que ninguém estava ali obrigado. Acho que isso é um ato criminoso e não pode acontecer”, acrescentou ela.
“Foi literalmente uma tortura. Estavam até com balde químico. Jogaram um monte de coisas neles, um monte!! Só escutava os tapas, os xingamentos. Estavam batendo com um bicho morto neles”, afirmou outra testemunha.
Procurada pela Banda B, a UFPR informou que o trote violento aconteceu fora das dependências da instituição e que a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) trabalha para tentar identificar os estudantes envolvidos.
“A UFPR reforça que é contra qualquer ato de discriminação ou violência, seja ela física, verbal ou simbólica. Na sequência da investigação, será aberto um processo disciplinar para as devidas responsabilizações, garantindo o amplo direito de defesa dos envolvidos. Nenhuma informação mais detalhada será repassada neste momento para não atrapalhar o processo de investigação”, diz trecho da nota recebida pela reportagem.
A instituição não informou, contudo, de qual curso os estudantes são.
Trote violento em Palotina
A UFPR afastou 25 estudantes de medicina veterinária, em abril do ano passado, após mais de 20 calouros sofrerem queimaduras durante um trote em Palotina, no oeste do Paraná.
Os veteranos do curso teriam utilizado um líquido que estava em uma embalagem de creolina, uma espécie de desinfetante e germicida usado por veterinários. À época, quatro pessoas chegaram a ser presos pela polícia. Eles deixaram a prisão dias depois mediante pagamento de fiança.