“Falsa sensação de liberdade”, essa frase é utilizada com frequência por especialistas em trânsito para descrever a quantidade de autuações e acidentes por embriaguez ao volante. Só nas últimas semanas, Curitiba e cidades da Região Metropolitana têm sido palcos frequentes de acidentes causados – em sua maioria – pela imprudência de condutores. Pensando nisso no que tem acontecido com tanta frequência, a Banda B pediu à Polícia Militar um levantamento das ocorrências que envolvem embriaguez ao volante.
De acordo com o BPtran, de janeiro a junho de 2023, a capital paranaense registrou 477 autuações por embriaguez ao volante. Sendo que 268 ocorrências foram autuações por embriaguez ao volante e 209 delas foram recusas por parte dos motoristas para fazer teste do bafômetro. Segundo o levantamento, o número de acidentes causados por embriaguez também é de 209 no mesmo período.
No mesmo período em 2022, o BPtran registrou 654 autuações (339 por embriaguez e 315 por recusa de bafômetro). O número de acidentes de janeiro a junho do ano passado foi de 306. No ano completo, o total de autuações chega a 1220. Sendo que 618 são por embriaguez e 602 por recusa de bafômetro. O número de acidentes também ficou em 602 no ano passado.
Entre os acidentes causados por embriaguez estão uma ocorrência desta segunda-feira (24), em Curitiba. Uma advogada que estava saindo do jogo do Coritiba x Fluminense foi presa após causar um acidente no Centro da cidade. Ela bateu no carro de um motorista de aplicativo e as passageiras que ele levava no veículo Logan tiveram ferimentos leves.
No sábado (15), uma tragédia atingiu o município de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba. O motorista Jhonatan Pereira da Luz, de 38 anos, que atropelou uma família inteira e estava embriagado. O ato provocou a morte de Wesley Cardoso de Souza, 10 anos. Agora, o condutor foi indiciado por homicídio doloso (quando há intenção ou assume-se o risco de matar) e outros três crimes.
Liberdade?
De acordo com o mestre em Engenharia de Transportes e professor da Universidade Positivo Hugo Alexander Pereira, a maioria das pessoas que bebem e começam a dirigir se sentem livres e pensam que não há possibilidade de acidentes. Sendo assim, há uma “falsa sensação de liberdade”.
“Antigamente se falava quando saiu a Lei Seca que teriam muitas blitz nos bares, casas noturnas, restaurantes. Hoje, os GPs notificam blitz e as pessoas acabam não sendo pegas. Deveria ter uma campanha de incentivo, para que as pessoas usem táxi, carros de aplicativo, as pessoas precisam ir embora com segurança”, diz
Na visão do professor é preciso que o estado fiscalize as ruas da cidade. Afinal, os reflexos do excesso de bebida alcoólica podem ser irreversíveis. “Os condutores têm uma perda de reação. Se for pensar em uma cidade que tem muito trânsito, que tem pedestres que atravessam a rua muitas vezes em um local que não é adequado. Muitos ciclistas tem que ter um ponto de atenção muito maior!”, diz.
Melhor fiscalização
Para o professor é preciso que as campanhas de conscientização no trânsito tenham novos públicos-alvo. “A gente pensa muito nas crianças (nas campanhas) quando elas estão vendo o pai, mãe dirigindo. Hoje em dia, a criança está no celular e não presta tanto atenção. Tem que ter um outro público alvo como os condutores e adolescentes, por exemplo”.
Hugo ainda sugere a criação de parcerias ou projetos piloto com associações de bares e restaurantes. Ele acredita que as campanhas precisam ser mais ostensivas e trabalhar com foco em incentivar a redução de acidentes e não punição.
“Temos o celular na direção como causa de acidente de trânsito, embriaguez, som alto, combina tudo e isso pode parecer uma bomba”, destaca o professor que pede novas campanhas de conscientização.