Radicada em Curitiba desde os 17 anos, cantora sul-mato-grossense, produtora, educadora, e há sete anos – por fim – assumidamente compositora. Multiartista, o respaldo de Toda Pele (2021) transborda em total sensibilidade. Assim como é a extensão de Thayana Barbosa: muito além dos pés fincados no mundo, ela é a própria enxurrada musical desta imensidão.

Percussivo, Toda Pele – distribuído em plataformas pela Tratore – é um álbum conceitual com variedades timbrísticas essenciais para condensar toda inventividade sonora que abrangem às referências musicais de Thayana, despertadas efemeramente pela imensurável relação dela com a cultura popular, e principalmente, pelo ecoar da caixa do divino.
Com a impecável produção musical de Fred Teixeira, o reflexo de texturas permeiam fortemente pela música afro, indígena e regional. Com a percussão e sintonia de Fernando Lobo e Simone Sou, Toda Pele traz sotaques e timbres que formam ritos e ganham sentido ao longo das 12 canções.
Além das dez músicas assinadas por Thayana – exceto em Mar Sem Céu onde ela conta com a colaboração de Sergio Justen – o álbum traz a regravação da atemporal Carcará (João do Vale e João Candido, 1964) e a participação especial de Carlos Careqa em Coração Rasgado – composição do próprio catarinense.
A sensibilidade musical de Toda Pele, tem ainda construções melódicas que passeiam pelo rock clássico, samba – como a progressiva Vou Cantar, faixa que encerra o álbum – e reggae, na calmaria de Mar Sem Céu.
Com os renomados Glauco Sölter (baixo), Luiz Otávio (guitarra), Du Gomide (violão) e Valderval (bateria e mashine) o quarteto agrega extraordinariamente a pontualidade instrumental ao longo de todo o álbum.
Em Saudade Dela, a participação do pianista Stéfanos Pinkuss e a viola conduzida por Gomide ganham serenidade e contemplação na letra poética de Thayana.
a saudade ainda se espalha feito mato no jardim
fere o peito com navalha
deixando o vazio
assim
(…)
“Embora eu tenha escrito as canções, foi no processo coletivo de criação dos arranjos que as músicas tomaram corpo e ganharam a forma como se apresentam no CD”, resplandece a artista sobre o segundo álbum solo.
Toda Pele foi concebido desde 2017. Então, a compreensão do tempo foi fundamental para a gestação do álbum. A equipe entrou em estúdio durante a pandemia – evidentemente, seguindo os protocolos pré-estipulados. Então, a compreensão e entendimento sobre o processo de produção e pós, foram de extrema importância. E claro, esse dilúvio sentimental no desenvolvimento também foi contemplado na obra.

“É como se eu tocasse em todas as feridas, mas sempre procurando ou apontando uma saída, uma luz no fim do túnel”, transcende.
Toda Pele é um álbum para ouvir do começo ao fim para redescobrir o sentido da vivência. De estar presente e não se perder, assim como Thayana Barbosa sugere na faixa tempestiva que abre o álbum: É grande o Mar.
se a onda leva quem vai não volta
são tantos caminhos a lhe encontrar
e é grande o mar
vento que balança sacode a lembrança
e a saudade amansa
moço não vá se perder no mar
(…)
