O influenciador Felipe Neto tomou o palco principal da Bienal do Livro de São Paulo na tarde deste sábado em uma condição nova: a de criador de um clube do livro que tem mexido com o mercado editorial e autor de “Como Enfrentar o Ódio”, que já bateu recordes na Companhia das Letras antes mesmo de sair.
O empresário de 36 anos investe com convicção no universo dos livros, então o encontro com ele –que começou com uma hora de atraso por causa do trânsito parado nos arredores do Distrito Anhembi– era um dos mais esperados do dia.
Na conversa, ele disse que o clube do livro é a maior aventura de sua vida (“nunca trabalhei tanto num projeto”), chamou de bandido o candidato a prefeito Pablo Marçal, que tem forte presença nas redes, e voltou a criticar o ensino de literatura que pede a adolescentes para lerem obras do século 19, uma polêmica que volta e meia ressuscita.
“A forma como literatura é tratada em muitas escolas é equivocada, não funciona para fomentar a leitura”, diz um empresário que tem se dedicado cada vez mais a pensar a formação de novos leitores. Seu clube recém-lançado já indicou duas distopias, o clássico americano “Fahrenheit 451” e o mais recente brasileiro “Corpos Secos”.
“Machado é um gênio, o maior de todos”, disse sob aplausos efusivos de uma multidão quase toda formada de adolescentes e jovens. “Mas quando eu li com 13 anos, achei uma bosta. E me forçaram a ler ‘Senhora’ do José de Alencar na oitava série, eu queria que esse cara morresse. Falaram que tinha morrido, e eu disse que queria matar de novo. Nenhum jovem de 14 anos está preparado para ler isso.”
Felipe diz saber que alguns professores discordam do método que ele descreve e reforça que sua intenção é deixar o adolescente empolgado com os livros. “Precisamos fazer jovem sair da aula de literatura com vontade de ler, não desesperado porque não está conseguindo ler.”
Ele lembrou que a saga “Harry Potter” foi sua “porta de entrada” para o vício na leitura. “Pena que a autora tenha morrido tão tragicamente”, brincou, em referência aos posicionamentos de J.K. Rowling severamente criticados por transfobia.
A última pergunta da sessão foi sobre qual a maneira correta de lidar com figuras que se popularizam nas redes sociais defendendo posições criticáveis –foi uma referência velada do mediador, o youtuber Paulo Ratz, ao debate sobre como lidar com a ascensão do prefeiturável Pablo Marçal, cria das redes sociais. É melhor criticar, ignorar ou debochar de alguém assim?
O influenciador começou dizendo, com didatismo para o público de fãs de pouca idade, que a comunicação se acelerou demais com a internet. “Se antes nossos avós compravam jornais e revistas e ganhava a que tinha melhor conteúdo, hoje o vencedor não é quem tem mais qualidade, mas quem gera acessos mais rápido. A qualidade foi trocada pela velocidade, e isso passou para a política.”
Assim, disse o autor, quem fala de forma “mais rápida, mais simples e mais histriônica para gerar memes” se sobressai. “E quem faz isso é a extrema direita. Quando você tem uma resposta simples como a que eles dão, você viraliza. Mas isso é enganar os eleitores, é enganar vocês.”
O “coach bandido”, continuou Felipe em referência a Marçal, dá uma roupagem nova à tática de Jair Bolsonaro. “Ele nunca fez ninguém enriquecer, promete que vai resolver problemas de todo mundo sendo mentiroso, criminoso e incapaz. E vai ter apoio popular porque é uma figura carismática de extrema direita que viraliza sendo muito simples.”
E como lidar com ele? “Ignorar o Marçal hoje não tem como. Ele está na liderança das pesquisas, empatado. Debochar o tempo todo não vai resolver. É preciso contratar quem estude isso o dia todo, montar uma equipe bem preparada e valorizar os profissionais de comunicação.”