Desde a década de 1980 que a depilação íntima da atriz Claudia Ohana, 60, é motivo de comentários e piadas. Mas se engana quem pensa que esse tema a deixa magoada. Pelo contrário. Hoje, a carioca diz que se considera “a grande representante das ppks e da liberdade”.
Por isso, inspirou e fechou contrato com uma marca de barbeador para uma campanha sobre depilação e cuidados íntimos. “Encaro tudo com graça, digo até que meus pelos pubianos cresceram ao longo dos anos, pois em algumas fotos parece até que usaram Photoshop”, brinca a artista em conversa com a Folha de S.Paulo.
Aos 60 anos, a atriz conta que se sente cada vez mais bela e que não teme o envelhecimento. Embora não seja contra procedimentos estéticos, ela diz que ainda não sente vontade (ou coragem) de passar por cirurgias. “Me cuido pra caramba, durmo bem, como bem. Sou nativista, vaidosa, adoro me sentir bonita.”
Essa vaidade contrasta com os personagens recentes de Claudia. Atualmente, ela interpreta um diabo na peça teatral “Dom Quixote de Lugar Nenhum”, em cartaz no Rio, e a terapeuta holística Dora, sem maquiagem alguma, na novela “Vai na Fé”. Na trama das 19h da Globo, sua personagem enfrenta uma doença terminal e opta por um tratamento paliativo, despedindo-se da vida gradualmente. Uma situação incomum para a atriz, que teme adoecer em seu dia a dia. Confira a entrevista na íntegra abaixo.
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P. – Como avalia a personagem Dora até agora em ‘Vai na Fé’?
CO – Ela teve a primeira fase dela, uma fase de descobrimento do mundo holístico. Inclusive eu comecei a fazer ioga, a usar óleos essenciais -e isso eu trouxe para a minha vida. No início, a Dora era um personagem lúdico, feliz, mas agora tem a parte dela adoecendo e aceitando a morte.
P. – Como ela enfrentará esse momento?
CO – Ela dá uma lição para nós de como enfrentar essa coisa que a gente costuma não encarar, que é o fim da vida. Será enfrentado de maneira bonita. Tenho aprendido muito com ela, embora seja a primeira vez que faço um personagem que fica doente. Ainda é difícil encontrar o tom certo para não pesar tanto, mas é um drama.
P. – Dora fará tratamento paliativo de um câncer terminal. Como se preparou?
CO – Às vezes, surgem imagens de filmes na minha cabeça e, em outros momentos, lembro das muitas séries de médicos que costumo assistir. É algo novo para mim, pois nunca vivenciei caso de alguém doente na família. No caso da Dora, ela vai piorando, ficando com falta de ar e é triste, mas, ao mesmo tempo, tem um olhar de felicidade e gratidão pela vida. A interpretação eu faço da maneira mais delicada e sutil.
P. – Ela chegará a usar maconha medicinal no tratamento?
CO – Isso é falado, mas ela não usa. O que utilizará será muita morfina contra as dores. A cannabis é mais usada, pelo que sei, para quem faz quimioterapia. Então, como a morfina é pesada, tem um estágio de sonolência que vai transparecer.
P. – Você é a favor do uso da cannabis para fins medicinais?
CO – Nos Estados Unidos, as pessoas usam para vários fins, seja para ter mais calma, para enjoo e outras coisas. Eu sou a favor, acho que é uma planta e pode ser usada para esse fim.
P. – Você tem nosofobia (medo de adoecer). Como lida com esse diagnóstico?
CO – Eu nem sabia o nome, mas eu tenho. Inclusive, não só tenho fobia de doença como também pego a doença do outro. Se você fala que tem dor no braço, eu acabo sentindo a dor da pessoa.
P. – Isso já te atrapalhou muito?
CO – Hoje em dia está melhor, mas antigamente eu ia parar até no hospital. Descobri a nosofobia tem muito tempo. Todo mundo me chamava de hipocondríaca, mas não é, eu não gosto de remédios, eu tenho é medo de pegar doença.
P. – Por conta disso, como consegue separar a personagem Dora, doente terminal, da Claudia?
CO – Saindo das gravações, eu costumo falar que não sou a Dora, e tiro ela de mim quando deixo o estúdio. Eu fico literalmente falando: ‘Agora sou a Claudia’. Tem vezes que na hora que estou interpretando eu fico meio dopada mesmo, fico mole, cansada, com a energia dela que vai vindo para mim. Vou entrando num estado de fraqueza e depois tenho que sair disso.
P. – No começo do ano sua filha Dandara ficou internada. De alguma forma aquele momento angustiante te ajudou a fazer a Dora?
CO – Não, é muito diferente quando ocorre com você e quando acontece algo com a sua filha. A dor e a preocupação com filho são muito desesperadoras. [Para as cenas,] tinha mais lembranças de quando tive que operar da diverticulite e tirei um pedaço do intestino. Foi a única operação que fiz na vida.
P. – Como está sua vaidade aos 60 anos?
CO – É engraçado, pois atualmente faço dois personagens desprovidos de vaidade: a Dora, sem maquiagem, com olheira e cabelo solto, e o diabo numa peça de teatro. Envelhecer não me preocupa nem me angustia. Essa coisa de ter que fazer plásticas não me consome. É ir aceitando o envelhecimento. Tem dias que eu me acho linda e em outros nem tanto, mas não me apego ao passado, à beleza jovem dos 20 e poucos anos.
P. – Você é contra procedimentos estéticos?
CO – A princípio não sou contra nenhum procedimento, mas não me sinto angustiada a ponto de passar por um. Me cuido pra caramba, durmo bem, como bem, me cuido mesmo. Sou nativista, vaidosa, adoro me sentir bonita, faço exercícios, exercito algumas habilidades pela manhã como tocar violão. Acordo todo dia e tenho um ritual enorme com meditação, leitura e palavras positivas. Gosto de estar bem de corpo, mente e espírito.
P. – Você se considera melhor fisicamente do que quando posou nua, em 1984?
CO – Hoje, fisicamente, é impossível estar melhor do que quando você tem 20 anos, mas me considero melhor no sentido de que, quando mais jovem, eu não tinha consciência do que eu era, do valor que tinha. Era muito insegura, muito medrosa. Hoje me acho maravilhosa.
Agora tem feito propaganda de depilação íntima, um assunto que a persegue desde quando posou nua. Sempre encarei isso com graça, como uma piada, até falo que meus pelos pubianos foram crescendo ao longo dos anos, pois em algumas fotos parece que fizeram Photoshop, porque tinha muito pelo. Mas sempre estranhei que a Gillette nunca tinha me chamado para fazer algo. Sou a grande representante dessas ppks, da liberdade e tudo, tenho essa imagem. É o que digo: falo cinco línguas, canto, danço, mas as pessoas se lembram é da minha Playboy.
P. – Isso te incomoda?
CO – Não, acho engraçado e hoje em dia não existe tabu. Não me enche o saco nem nunca me magoei com isso. Deu até para ganhar uma graninha com isso… Viu só? Faz parte da minha história.