Policiais rodoviários estaduais foram flagrados supostamente cobrando propina e extorquindo motoristas em rodovias do Paraná. Ao menos dez agentes foram afastados das funções e são suspeitos de receberem R$ 140 mil de forma ilícita em um período de nove meses. As identidades deles não foram divulgadas.

Vídeos obtidos pelo portal aRede, parceiro da Banda B, e gravados pelas equipes de investigação mostram policiais manuseando celulares e supostamente fornecendo dados bancários aos motoristas. Em um deles, um policial aparece apontando um “QR code” para um motorista. Em outro, surge pegando uma cédula de dinheiro da carteira do condutor.

As suspeitas vieram à tona após motoristas denunciarem as cobranças ilegais, que ocorriam durante fiscalizações e abordagens nas estradas. Duas operações foram deflagradas nesta terça-feira (7): a segunda fase da operação Rota 466, em Guarapuava, Imbituva, Ponta Grossa, Laranjeiras do Sul, Guaraniaçu e Pitanga; e a operação Via Pix, em Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Telêmaco Borba, Jaguariaíva, Arapoti, Wenceslau Braz e Siqueira Campos. Foram cumpridos mandados de prisão, de busca e apreensão em casas e postos policiais, além de bloqueio de contas bancárias e arresto de bens.

Os Núcleos de Guarapuava e Ponta Grossa do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná foram os responsáveis pelas ações.

Rota 466

O Núcleo de Guarapuava do Gaeco, com o apoio da Corregedoria da Polícia Militar, cumpriu 11 mandados de busca e apreensão, três de busca pessoal, um de prisão e arresto de bens e contas bancárias.

Nesta etapa, o objetivo dos mandados foi aprofundar as investigações, já que foram encontradas provas de crimes de outros três policiais militares que ainda não tinham sido alvos na primeira etapa, sendo dois deles da Polícia Rodoviária Estadual. Os policiais foram afastados de suas funções operacionais.

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Foto: Divulgação/Gaeco

Os agentes são suspeitos de cobrar propina de motoristas e de trabalhadores que atuavam no salvamento de cargas tombadas, configurando possíveis crimes de concussão, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Um ex-comandante do Posto de Guarapuava foi preso preventivamente. Ele teria recebido ao menos R$ 47 mil em propina e tentado atrapalhar as investigações.

“Além disso, foram descobertas outras pessoas físicas e jurídicas que realizavam a lavagem dos valores de propina por meio de suas contas bancárias, que também foram alvos de busca”, divulgou o MP.

Via Pix

O Núcleo de Ponta Grossa do Gaeco, também com o apoio da Corregedoria da Polícia Militar, cumpriu 19 mandados de busca e apreensão em residências e postos policiais nos municípios de Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Telêmaco Borba, Jaguariaíva, Arapoti, Wenceslau Braz e Siqueira Campos.

As ordens judiciais foram expedidas pela Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual, que também determinou o afastamento das funções operacionais de sete policiais rodoviários estaduais, além do bloqueio de contas bancárias.

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Foto: Divulgação/Gaeco

As investigações começaram em março de 2025, após motoristas profissionais denunciarem extorsão por policiais rodoviários na região de Piraí do Sul. A apuração identificou um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo policiais, empresas e civis.

Durante fiscalizações, os agentes exigiam pagamentos em dinheiro ou via Pix, muitas vezes para contas “laranjas”, liberando os veículos somente após o repasse. Quase 100 motoristas foram identificados como alvos, e parte já prestou depoimento.

Somente com base nas contas bancárias identificadas até agora, entre dezembro de 2024 e agosto de 2025, os investigados receberam ilegalmente em torno de R$ 140 mil por meio de pagamentos por Pix.

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Foto: Divulgação/Gaeco

O que diz a PM

Em nota, a Polícia Militar (PM) informou que a Corregedoria da corporação apoiou no cumprimento da operação e destacou que acompanha os desdobramentos das investigações. Veja a nota na íntegra abaixo:

“A Polícia Militar do Paraná informa que, na manhã desta terça-feira (07/10), o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), força-tarefa composta pelo Ministério Público, Polícia Militar e Polícia Civil, deflagrou uma operação nos municípios da região dos Campos Gerais e Centro-Sul do Estado.

O trabalho foi conduzido pelos núcleos do GAECO de Ponta Grossa e Guarapuava, com apoio irrestrito da Corregedoria-Geral da Polícia Militar e participação ativa do Comando Regional da PM em Ponta Grossa (CRPM).

A ação teve como objetivo o cumprimento de mandados judiciais relacionados a investigações conduzidas pelo Ministério Público do Paraná. Até o momento, dez militares estaduais foram afastados de suas funções e um mandado de prisão foi cumprido.

A Corregedoria-Geral da PMPR acompanha todas as diligências de forma presencial, assegurando a transparência e a legalidade dos procedimentos.

Outras informações serão divulgadas exclusivamente pelo Ministério Público do Estado do Paraná, responsável pela investigação.”