A Polícia Civil indiciou cinco pessoas por envolvimento no sequestro de um empresário, de 58 anos, no último dia 17, em Curitiba (PR). Entre os indiciados está uma funcionária da vítima, que é suspeita de ter planejado o crime.
De acordo com a corporação, as cinco pessoas foram indiciadas sob a suspeita de praticar o crime de extorsão mediante sequestro. Além disso, quatro delas deverão responder por porte ilegal de arma de fogo.
A funcionária indiciada atuava como gerente financeira na empresa da vítima. O advogado que defende a funcionária e outros três suspeitos afirmou à Banda B, neste sábado (28), que “contraria o relatório” da Polícia Civil. A corporação também solicitou que ela seja presa preventivamente novamente.
“A defesa irá pugnar, junto ao Poder Judiciário e ao Ministério Público, para que a mesma continue respondendo o processo em liberdade, pois não há qualquer razão, qualquer instrumento de prova novo nos autos, que venha dizer que a mesma não preencha todos os requisitos”, disse o advogado Igor José Ogar.
O inquérito sobre o caso foi enviado ao Ministério Público do Paraná, que tem um prazo de cinco dias para decidir se denuncia ou não os envolvidos no crime.
O advogado que representa o empresário disse que irá atuar pela responsabilização dos envolvidos e parabenizou o “trabalho brilhante” da Polícia Civil.
“Nosso compromisso é exclusivamente com a verdade e a justiça, e seguiremos trabalhando com responsabilidade até que todos os envolvidos neste grave crime sejam responsabilizados”, afirmou Jeffrey Chiquini, em nota.
O sequestro do empresário
De acordo com a Polícia Civil, o sequestro do empresário aconteceu após os criminosos provocarem um acidente de trânsito na região do bairro Jardim Botânico. Imagens divulgadas pela corporação mostram os suspeitos batendo contra o veículo do empresário para que ele parasse.
Em seguida, o empresário para o carro, um SUV preto, e desembarca. Dois bandidos também saem do carro que provocou o acidente, um Fiat Palio Weekend, e conversam com a vítima enquanto fingem analisar os danos causados pela batida. Segundos depois, a vítima é obrigada a entrar no próprio carro com um dos sequestradores, e o comparsa dele deixa o local dirigindo o Palio.
Pouco tempo depois, o comparsa reaparece correndo e também entra no carro do empresário. Ele ocupa o lugar do motorista no SUV e ambos fogem com a vítima. Segundo um dos delegados responsáveis pelas investigações, o relato de uma testemunha foi fundamental para solucionar o crime.
“A informação inicial que chegou para nós era sobre um possível assalto e roubo a veículo, em que a vítima foi levada junto. Essa situação foi percebida por uma testemunha que achou estranha a situação. Todos entraram nesse SUV preto e saíram do local. A testemunha ligou para a Polícia Militar, que nos acionou para começarmos as diligências no Jardim Botânico, onde o crime aconteceu”, disse à Banda B o delegado Fernando Zamoner.
Após a denúncia, os policiais civis tiveram acesso às imagens de câmeras de segurança e concluíram que o acidente de trânsito foi causado para que os bandidos conseguissem sequestrar o empresário. “Logo na sequência, chegou a informação sobre um veículo ter sido encontrado queimado no bairro Alto Boqueirão. Depois, chegamos à conclusão que era o veículo da vítima e a identificamos”, acrescentou o delegado.
A Polícia Civil conseguiu estabelecer contato com a família do empresário e encontrou o Fiat Palio Weekend usado pelos sequestradores. Um dos envolvidos no crime, então, foi identificado. Os agentes orientaram que os familiares do homem entrassem em contato com a agência bancária dele para informar o sequestro.
“Durante a manhã, orientamos a família a entrar em contato com o gerente do banco para que ficasse em alerta em relação a uma eventual tentativa de transferência. O gerente informou que a vítima já havia feito contato com o celular dela tentando fazer uma transferência TED de R$ 3,7 milhões”, revelou Fernando Zamoner.
“A ideia deles não era pedir resgate à família, mas apenas efetuar uma transferência bancária da conta da vítima, o que deu errado. Nós já sabíamos que isso estava acontecendo e os valores foram bloqueados antes da transferência”, acrescentou o delegado Thiago Teixeira, do Tigre (Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial).
Pouco tempo depois, os policiais civis, em conjunto com outras forças de segurança, descobriram que os criminosos estavam usando um segundo carro, um Volkswagen Nivus. “Identificamos que eles estavam se deslocando para o Rio Grande do Sul pela BR-116”, afirmou Zamoner.
A mobilização das polícias civis do Paraná e de Santa Catarina, assim como da PM e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), e o uso de helicópteros levaram à abordagem do veículo dos criminosos na rodovia mencionada pelo delegado.
“A PRF conseguiu interceptar o veículo e resgatamos a vítima. Ela foi sequestrada na noite de terça-feira (17) e logo depois do almoço do dia 18 a localizamos”, disse o delegado.
“A vítima foi encontrada aparentemente bem, sem qualquer sinal de maus-tratos. Acreditamos que eles procurariam um cativeiro para manter a vítima até conseguirem o dinheiro. O suspeito que foi preso em Santa Catarina confirmou participação no crime e disse que já estavam há 14 dias monitorando a vítima com o intuito de sequestrá-la. Eles tinham fotos da vítima e da família dela, e sabiam de toda a rotina”, explicou Thiago Teixeira.
Sequestro motivado por auditoria
O advogado do empresário revelou que o sequestro foi motivado por uma auditoria para apurar desvios financeiros na empresa dele. A vítima contratou um auditor para investigar possíveis desvios do caixa da empresa. Pouco tempo depois da contratação, em junho, o auditor foi vítima de uma tentativa de homicídio, como mostrou a Banda B.
“Tudo se inicia quando o empresário contrata uma auditoria porque estava sendo vítima de desvios bancários há mais de três anos. Tentaram matar o auditor porque ele estava chegando aos criminosos. Em seguida, um novo auditor foi contratado. Os sequestradores, quando o empresário estava dentro do carro com uma arma no seu pescoço, disseram: ‘Você vai morrer porque contratou um auditor’”, afirmou o advogado do empresário.
A tentativa de homicídio contra o auditor aconteceu cerca de três meses antes do sequestro do empresário. Ele foi atingido por pelo menos dois tiros no momento em que chegou na empresa, na manhã de um sábado, em uma motocicleta.
O crime registrado no Jardim Botânico, mesmo bairro onde houve o sequestro, foi flagrado por uma câmera de segurança. As imagens mostram o criminoso abordando o auditor e atirando poucos segundos depois. O caso era tratado como uma tentativa de assalto até então.
A vítima foi socorrida ao Hospital do Trabalhador e se recuperou bem. Pouco tempo depois, um novo auditor teria sido contratado pelo empresário, e a funcionária apontada como mentora do sequestro decidiu prosseguir com o plano.
“Visando colocar um fim em tudo isso, eles armam o sequestro do empresário para que transferissem o valor que tinha na sua conta bancária. A finalidade era matá-lo. Os sequestradores tinham em mãos um extrato bancário que a gerente financeira passou a eles”, acrescentou Jeffrey Chiquini.