A família de Caio José Ferreira de Souza Lemes, de 17 anos, morto com um tiro na cabeça durante uma abordagem da Guarda Municipal em março de 2023, no bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC), repudiou as declarações recentes feitas pela defesa dos agentes denunciados pelo crime.
Os guardas municipais Edilson Pereira da Silva e Edmar Teixeira Junior vão passar por uma audiência em janeiro de 2026, quando a Justiça vai decidir se eles serão levados ou não a júri popular. Edilson responde por homicídio duplamente qualificado e fraude processual, enquanto Edmar é acusado de fraude processual.

“É inadmissível que, mesmo após a morte brutal do meu filho, haja quem continue a difamá-lo, afirmando que ele estava envolvido com o crime e precisava ser contido. Essa declaração não só é falsa, como revitimizou não apenas a família, mas inclusive o meu filho, que não está aqui para se defender”
disse Lilian Ferreira da Silva, mãe de Caio.
De acordo com Lilian, o adolescente foi assassinado “de maneira impiedosa” e ainda teve sua memória manchada.
“Meu filho foi assassinado de maneira impiedosa por guardas municipais, que inclusive já confessaram ter fraudado toda a cena. Assim como aconteceu com o advogado anterior, que nem advogado era, ele [o advogado] tem que ser responsabilizado por caluniar os mortos, por tentar manchar a memória de alguém que foi vítima de um crime hediondo. Justiça e respeito à verdade não podem ser negociados”
reforçou a mãe da vítima.
Nesta quinta-feira (16), a defesa dos agentes reforçou a versão de que eles agiram dentro da legalidade. O advogado Caio Percival afirmou que os guardas agiram em um contexto de risco e reagiram a um comportamento considerado ameaçador.
“Esses profissionais conseguiram afastar um indivíduo que não respeitava as leis, que estava frequentemente envolvido com substâncias ilícitas e que, cedo ou tarde, precisaria ser contido. Viemos para reforçar a equipe defensiva e mostrar que esses guardas agiram dentro dos estritos limites da lei”
complementou Percival.
Claudio Lemes, pai de Caio, também se manifestou com indignação diante das declarações da defesa dos guardas municipais. Ele relembrou o dia da morte do filho e criticou a tentativa de associar o adolescente ao crime.
“Meu filho foi assassinado com um tiro na cabeça por um guarda municipal de Curitiba. Os réus que participaram desse crime confessaram que alteraram a cena do crime, para alegar que agiram em legítima defesa. Esse novo advogado está caluniando a honra e a memória do meu filho, afirmando que meu filho era um criminoso, um marginal. Não, meu filho era um adolescente lindo, de alma e coração lindos, que foi executado quando já estava rendido”
complementou Claudio Lemes.

“Foi um ato de covardia”, diz advogado
À Banda B, o advogado Claudio Dalledone Junior, que representa a família de Caio, criticou a forma como a defesa dos agentes conduziu o processo e afirmou que a atuação dos guardas não pode ser justificada como legítima defesa.
“Essa aparição precoce de mais um advogado na defesa só demonstra a fragilidade da estratégia até aqui. Esses guardas municipais só estão nessa condição porque foram pessimamente orientados. Vão a júri popular e serão condenados, porque não se admite nenhuma hipótese de legítima defesa em um tiro na nuca de um adolescente que não representava perigo, ainda mais plantando uma faca na cena. Infelizmente, nós teremos guardas municipais condenados. Foi um ato de covardia, uma execução que jamais poderia ter acontecido”
afirmou Dalledone
Relembre o caso
Caio José Ferreira de Souza Lemes foi assassinado com um tiro na cabeça aos 17 anos, no dia 25 de março de 2023, durante uma abordagem da Guarda Municipal no bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC). O agente apontado como o responsável pelo disparo é Edilson Pereira da Silva.
Além de Edilson e Edmar, um terceiro guarda participou na ocorrência, mas ele foi ouvido como testemunha do caso. No boletim de ocorrência sobre o episódio, os agentes disseram à época que o tiro disparado contra o estudante aconteceu em legítima defesa. Relataram ainda que havia uma faca de 25 centímetros com ele.
Dias após a primeira versão, o agente Anderson Bueno revelou que a faca encontrada com o adolescente, na verdade, foi “plantada” pelos agentes. A faca teria sido apreendida pela equipe em uma abordagem anterior, realizada no Parque Municipal Mané Garrincha. “Se você pegar, não vai ter digital do piá na faca, porque ela não estava ali no local”, disse Anderson.

A Guarda Municipal (GM) admitiu que as câmeras acopladas às fardas dos agentes envolvidos na morte do adolescente estavam ligadas, porém não foram acionadas. A afirmação ocorreu três dias após a corporação, por meio da Prefeitura de Curitiba, divulgar que os equipamentos estavam desligados.
O comandante da Guarda Municipal de Curitiba, Carlos Celso Santos Junior, confirmou que os agentes possuíam câmeras nos uniformes, mas erraram ao não acioná-las e também ao não comunicarem a ocorrência ao Centro de Controle e Operações Muralha Digital (CCOMD), o qual tem autonomia para ligar o equipamento caso o guarda não consiga.