A família de Aníbal Antônio Portes, de 70 anos, procurou a Banda B neste domingo (11) para denunciar um caso de tortura envolvendo três policiais militares. O idoso teria sido espancado, na última quinta-feira (8), no bairro Sítio Cercado, em Curitiba, após ser conduzido pela polícia em uma abordagem por violência doméstica.
Maurício Portes, filho de Aníbal, disse que naquela tarde o pai estava bêbado e discutia com a esposa, que também é idosa. Como os ânimos estavam bastante alterados e o idoso um pouco violento, o filho decidiu chamar a polícia.
“A gente acabou chamando a viatura para apaziguar a situação, para que aquilo que estava acontecendo em casa se acabasse. Então, os policiais vieram, desceram da viatura, logo algemaram meu pai e colocaram no camburão. Falaram para gente que iriam levar ele, pra ele se acalmar e, assim que estivesse mais calmo, que passasse a situação da bebida, iriam soltar o meu pai para vir para casa”, disse à Banda B.
A família estranhou a demora por notícias, ligou da Delegacia da Mulher e foi informada de que o idoso não havia chegado por lá.
“Passado uma hora mais ou menos, o meu pai apareceu aqui em casa todo arrebentado, eles levaram o meu pai no mato e torturaram o meu pai”, afirmou Maurício.
Seu Aníbal contou que poucas quadras depois de deixarem a casa, os policiais desviaram o caminho e seguiram para uma rua deserta. Lá, o desceram da viatura e começaram a sessão de espancamento.
“Eles me levaram para uma quiçaça, um mato, que eu não sei nem dizer onde é. Me levaram lá, me jogaram no chão, jogaram tipo de um spray em mim e daí já me deu troço ruim, então já me viraram com a cara para o chão e começaram a descer o porrete em mim […] Me arrebentaram nas pernas, na bunda, nas costas. Me deu vontade de perguntar para eles: vocês não têm pai?”, detalhou.
O idoso relatou que, por causa do spray nos olhos, não conseguia enxergar direito, apenas sentia as batidas do que parecia ser o cacetete. As agressões eram alternadas e teriam durado alguns minutos.
“Eu pensei ‘vai ser o fim da minha vida’. Na hora que vi eles entrando comigo naquela rua, naquele mato, eu pensei ‘acabou para mim’. Eles falavam ‘o senhor vai ver o que é bom para tosse’ […] Na hora que eles terminaram de me bater, o que ficou falou: veja o que vocês vão fazer agora. Aí me trouxeram para o batalhão e eu fiquei uma meia hora lá na cadeira. Aí me liberaram”, descreveu.
As agressões deixaram hematomas e cortes nas costas, costelas, braços, pernas e nádegas. As fotos enviadas pela família são bastante sensíveis, por isso a reportagem optou por não utilizar todas nesta publicação.
Ainda, segundo o idoso, depois de ser liberado do batalhão, ele caminhou algumas quadras até em casa, mesmo machucado.
“É revoltante. Depois que meu pai chegou em casa, eu vim para cá. Cheguei e ele estava sentado na garagem, quando eu abri o portão ele falou ‘Josi, me leva no médico’. Ele estava segurando no peito, com muita dor e dificuldade para respirar”, lembrou Josiane Cristina Portes, filha de Aníbal.
Trauma
A família ficou traumatizada com a situação. Seu Aníbal citou que, desde quinta-feira, não consegue dormir e nem se alimentar direito.
“Senhor meu Deus, misericórdia, que castigo que esses caras me deram. Eu ficaria alegre e contente se me pegassem aqui e me levassem para Delegacia da Mulher ficar preso, do que eles terem feito o que fizeram comigo […] Eu nunca passei por uma coisa dessas. Agora estou deitado na cama e qualquer barulhinho, abro a cortina para olhar. Arrebentou comigo”, lamentou.
Maurício ressaltou que, embora tenha problemas com bebidas alcoólicas, o idoso é um bom pai e marido, e que não merece o que aconteceu.
“Você vê seu pai sair daqui algemado, em perfeitas condições físicas, e chegar totalmente destruído, totalmente arrebentado, um senhor de 70 anos, não tem como. Esses policiais que fizeram isso com ele não são policiais, nunca foram […] A polícia tenta fazer um serviço bom para população, para ajudar. E daí entram bandidos numa farda e fazem o que fizeram. A família está toda revoltada”, destacou.
Sogro de subtenente
Aníbal é sogro de um subtenente da Polícia Militar. Quando o policial soube do que os colegas de farda tinham feito, logo instruiu a esposa a abrir uma denúncia junto à Corregedoria da PM.
“Falei para ele: o que fizeram com o senhor não se faz com ninguém. Na hora eu já peguei meu telefone, liguei para o meu marido e perguntei o que poderia ser feito nessa situação porque eles espancaram e torturaram o meu pai. Ele nunca se mete em nada, ele é a favor da polícia, mas da polícia correta. Quando ele viu o que esses três laranjas podres fizeram com meu pai, ele ficou revoltado”, garantiu Josiane.
De acordo com a família, a Polícia Militar do Paraná já identificou os três envolvidos e abriu uma investigação interna sobre o caso.