O primeiro dia de júri dos acusados pela morte de Ana Paula Campestrini, nesta quinta-feira (24), em Curitiba, foi marcado por discussões acaloradas entre defesa e acusação. Em um dos momentos, o ex-marido da vítima e réu no processo, Wagner Oganauskas, se dirigiu ao advogado Jeffrey Chiquini e disse que não iria perdoá-lo por uma situação envolvendo a filha do casal.
Chiquini, que representa a família de Ana Paula e atua na assistência da acusação, rebateu questionando se o ex-presidente do clube Morgenau também iria matá-lo (assista abaixo).
A discussão começou quando o advogado Flávio Warumby Lins, que compõe a banca de defesa de Oganauskas, questionou o que ele tinha achado sobre o tratamento de Chiquini com a filha do casal, durante o depoimento dela.
“Hoje, aqui no plenário, como o senhor se sentiu vendo a sua filha sendo atacada?”, perguntou.
Oganauskas respondeu que se sentiu ofendido e dirigiu a palavra a Chiquini.
“Eu nunca vi nada assim. Ver isso com a própria filha, partindo de um colega de profissão, foi uma baixaria tremenda. A menina estava aqui para esclarecer os fatos, mais nada. Isso foi uma baixaria tremenda. Eu não perdoo o senhor, doutor. Não perdoo mesmo”, disparou Oganauskas.
Chiquini prontamente respondeu, o que deu início a um bate-boca, incluindo Elias Mattar Assad, que defende o ex-presidente do clube Morgenau.
Confira o diálogo:
Chiquini (acusação): “Não vai pedir para me matar também”
Oganauskas (réu): “Por favor, doutor. Por favor”
Chiquini (acusação): “Preciso de carro blindado? Preciso andar com segurança?”
Mattar Assad (defesa): “Wagner, olhe para mim. Eu tenho uma pergunta que interessa aos jurados”
Chiquini (acusação): inaudível
Karoline Crepaldi (defesa): “O senhor vai continuar com essa baixaria, doutor Jeffrey? Por favor!”
Chiquini (acusação): “Porque ele disse que não vai me perdoar? Eu tenho que saber o seguinte: ele não perdoou Ana Paula e matou Ana Paula. Se ele não me perdoar, vai querer me matar também?”
Mattar Assad (defesa): “Isso a gente vê depois”
Chiquini (acusação): “Vê depois não. Eu preciso entender”
Mattar Assad (defesa): “Não é o momento”
Chiquini (acusação): “Ele não perdoava Ana Paula e matou Ana Paula. Agora ele olha para o advogado e diz ‘não vou te perdoar’. Eu quero saber: daqui a 40 anos, quando o senhor sair da prisão, eu tenho que me preocupar?”
Mattar Assad (defesa): “Mas doutor, opinião…”
Chiquini (acusação): “Opinião não. Você vai deixar ele me ameaçar em plenário? Como assim?”
Karoline Crepaldi (defesa): “Doutor, qual ameaça ele fez ao senhor?”
Mattar Assad (defesa): “O senhor tomou o que? Bebeu? Cheirou?”
Chiquini (acusação): “Não me meça pela sua régua. Não frequento os mesmos botecos que o senhor”
Mattar Assad (defesa): “Trata-se de um pai irresignado com a sua grosseria com a filha dele”
Chiquini (acusação): “Ninguém desrespeitou ninguém. Os ataques são desnecessários a esse advogado”
Assista:
Caso Ana Campestrini
O crime aconteceu em 22 de junho de 2021, no bairro Santa Cândida, em Curitiba. Estão sendo julgados o ex-marido de Ana Paula Campestrini e ex-presidente do clube Morgenau, Wagner Oganauskas; e um amigo dele e também ex-diretor do clube, Marcos Antonio Ramon.
De acordo com a denúncia do Ministério Público do Paraná (MPPR), os denunciados Wagner e Marcos cometeram o homicídio contra Ana Paula por razões da condição do sexo feminino, no âmbito da violência doméstica e familiar. Além disso, o MPPR cita a lesbofobia como motivo para o crime, já que o ex-marido de Ana não aceitava o novo relacionamento mantido pela vítima com uma mulher.
Ambos podem ser criminalizados por feminicídio com as qualificadoras de motivo torpe, pagamento de recompensa e impossibilidade de defesa da vítima. Ramon também responde por fraude processual.
O júri do caso Ana Campestrini
O júri dos acusados pela morte de Ana Campestrini entra no segundo dia nesta sexta-feira (24). Ontem, foram mais de 15h de julgamento. Depois de ouvir todas as testemunhas de defesa e acusação, além do réus, o juiz decidiu interromper a sessão durante a madrugada e retomar na manhã de hoje.