A Associação dos Delegados de Polícia do Paraná (Adepol) repudiou a declaração do governador Beto Richa (PSDB) sobre o delegado Wilkinson Fabiano de Arruda, de Laranjeiras do Sul, que é responsável pelas investigações do ataque a tiros contra a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, nesta quinta-feira (29), Richa afirmou que as denúncias de Arruda sobre as condições precárias de trabalho na corporação são uma mentira. “Mentira dele, mentira. Liga para o diretor-geral da Polícia Científica. Ele vai dizer que nunca houve tanto investimento na Polícia Científica quanto no nosso governo. Inaugurei dois IMLs nas duas últimas semanas, Londrina e Curitiba. Liberei a contratação de 28 técnicos, médicos legistas e tudo. Sabe como é funcionário público. Alguns têm mania de querer o paraíso. Pergunta quanto é o salário dele”, afirmou o governador.
Indignado com a declaração, o presidente da Adepol, Daniel Fagundes, declarou que, ao afrontar um delegado, Richa atacou toda uma categoria. “Os nossos colegas de Laranjeiras não são mentirosos. Eles estão tocando a investigação com bastante responsabilidade, como qualquer outra. O que acontece é que, em um determinado momento, sentindo-se pressionado, o Fabiano fez um desabafo em uma nota, dizendo que, se tivesse melhores condições, daria uma resposta mais eficiente sobre o caso”, explicou ele em entrevista coletiva realizada na tarde de hoje.
Segundo Fagundes, entre as reclamações do colega, estão o desvio de funções, já que ele precisa cuidar dos presos; e a sobrecarga de trabalho, passando por uma jornada diária de 10 horas. “Ele também apontou que, mesmo com mais municípios do que Santa Catarina, o Paraná tem um efetivo menor, com 360 cargos de polícia vagos… Aí no momento em que ele faz um desabafo, apenas reverberando os problemas que todos nós conhecemos, vem o Beto Richa e o ataca, o chamando de mentiroso. Quem vem faltando com a verdade é ele, basta visitar uma delegacia para ver se elas estão em condições adequadas”, completou.
De acordo com a Adepol, dos 30 mil presos do estado, 10 mil estão em delegacias e, até o momento, o governo não apresentou uma solução concreta para mudar essa realidade. “O governador prometeu 14 novas unidades no Depen [Departamento Penitenciário] e até agora não entregou nenhuma, em oito anos de governo”.
Ligação política
Em outra resposta à Folha, Richa negou que haja precariedade na segurança e disse que “sempre tem os esquerdopatas no meio do funcionalismo”. Ao ser questionado se ele se referia ao delegado, ele afirmou que não sabia a orientação política do servidor. A Adepol, no entanto, rebateu e declarou que Arruda não tem nenhum vínculo partidário.
O presidente do Sidepol, sindicato que representa os delegados, Marques Rolin e Silva, comentou que Fabiano se manifestou “de forma coerente”, apenas mostrando a realidade da polícia. “O governador sabe da nossa estrutura, e só estamos pedindo que nos dê condições mínimas para o nosso trabalho, para que possamos enfrentar a criminalidade que a cada dia que passa está mais ousada. Para se ter uma ideia, a quantidade de policiais mortos em desvio de função, com guarda e escolta de presos, é maior do que o número de feridos ou mortos em operações contra a criminalidade”, finalizou.