A Defensoria Pública do Paraná (DPE-PR) pediu à Polícia Militar (PM) que os agentes envolvidos na abordagem a um catador de materiais de recicláveis na região central de Curitiba sejam afastados das ações de patrulhamento nas ruas.
Coordenador do Núcleo da Cidadania e Defesa dos Direitos Humanos do órgão, o defensor Antonio Vitor Barbosa de Almeida afirmou que as imagens da abordagem registradas por testemunhas demonstram uma “nítida desproporcionalidade” dos policiais militares.
“Conseguimos visualizar cerca de seis viaturas e a mobilização de aproximadamente 15 agentes para conter uma única pessoa em situação de vulnerabilidade social”, disse Almeida.
Durante a abordagem, que aconteceu na quarta-feira (4), próximo à Praça Santos Andrade, o catador foi arrastado pelos policiais. Ferido, ele foi encaminhado a uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA).
O vídeo da ação foi divulgado nas redes sociais e gerou revolta entre alguns usuários. No perfil “Brasil Fede Covid”, página criada durante a pandemia para denunciar festas e aglomerações e que reúne 485 mil seguidores, os administradores escreveram: “Isso não tem e nunca terá explicação. 7 viaturas. Dezenas de policiais para abordar um carrinheiro”.
O defensor público também afirmou à reportagem que o órgão recebeu com preocupação o comunicado enviado pela PM à imprensa. Segundo a corporação, o homem era considerado foragido da Justiça desde julho por ter fugido da prisão e possui uma “extensa ficha criminal”.
Em nota, a PM justificou que a abordagem ao catador ocorreu a pedido de uma mulher que transitava pela região, pois ela teria presenciado ele ameaçando alguns pedestres. Além disso, o carrinheiro teria informado outra identidade à polícia ao ser abordado e agredido os servidores.
Na nota, a instituição também destacou que o suspeito possui várias passagens por roubo e “respondeu por diversas faltas graves dentro do sistema prisional”. De acordo com os registros, o homem fugiu ao menos seis vezes da prisão nos últimos 24 anos e tem cerca de dez ocorrências em sua ficha, se consideradas apenas abordagens e prisões.
“O que nos preocupa também foi o tom da nota encaminhada pela Polícia Militar à imprensa. Ainda que a pessoa tenha alguma passagem pela polícia ou um mandado de prisão contra si, isso jamais pode justificar a pessoa ser imobilizada por três agentes e arrastada”, acrescentou Almeida.
A DPE-PR também questionou o que motivou a operação deflagrada pela corporação e pediu que o caso seja apurado por meio de um Procedimento Administrativo Disciplinar. “Há um risco agentes que possam cometer algum tipo de violência continuarem em patrulhamentos”, disse.
A PM informou ter instaurado um procedimento administrativo para apurar a conduta dos agentes.