Denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MPPR) por desacato e desobediência contra uma juíza durante o julgamento do réu acusado de matar a youtuber Isabelly Cristine Domingos dos Santos, o advogado Claudio Dalledone Jr. afirmou nesta sexta-feira (20) que o promotor Rodrigo Sanches Martins busca “vingança pessoal”. Além dele, Renan Pacheco Canto, que atua no escritório de Dalledone, também foi denunciado.

A denúncia criminal oferecida pelo Ministério Público se tornou pública na tarde desta quinta-feira (19), cerca de duas semanas depois do réu Everton Vargas — e cliente de Dalledone — ser condenado a 14 anos de prisão pelo assassinato da adolescente com um tiro na cabeça, em Pontal do Paraná. A Promotoria alegou que os advogados de defesa do acusado desrespeitaram a juíza Carolina Valiati da Rosa.

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Da esq. para dir., Renan Canto, Everton Vargas e Claudio Dalledone Jr. – Foto: Antônio Nascimento/Banda B

Além disso, diz o MP, teriam a menosprezado e a constrangido, aproximando-se da juíza de forma ameaçadora, gritando contra ela e acusando-a de usar sua condição de mulher para colocar os jurados contra a defesa. Os denunciados também são acusados de terem desobedecido por diversas vezes as ordens legais da magistrada quando ela recomendou que eles abaixassem o tom de voz e se comportassem adequadamente.

Por meio de nota, os advogados Claudio Dalledone Jr. e Renan Pacheco Canto afirmaram que a denúncia “não causa surpresa”, mas provoca “indignação”. Para eles, é “nítido o revanchismo pessoal do referido promotor”.

O defensores destacam que “a denúncia em questão não passa de um ato de vingança pessoal” e que as condutas apontadas pelo Ministério Público não configuram crime (veja a nota na íntegra abaixo).

O julgamento realizado no Fórum de Ipanema chegou a ser suspenso em algumas ocasiões devido a embates envolvendo os advogados do réu e o promotor Rodrigo Sanches Martins. Em um dos episódios, como mostrou a Banda B, a sessão foi interrompida após Claudio Dalledone Jr. ser chamado de “mentiroso” pelo representante do MP.

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A youtuber Isabelly Cristine Domingos dos Santos, assassinada aos 14 anos com um tiro na cabeça, em fevereiro de 2018 – Foto: Reprodução

Um vídeo obtido pela Banda B mostra uma discussão entre o advogado Claudio Dalledone Jr. e o promotor durante o júri popular. Logo após o embate, o advogado disse que iria representar contra o promotor na Corregedoria-Geral do Ministério Público do Paraná.

O Ministério Público publicou em seu site o conteúdo da denúncia contra os advogados, mas o texto foi removido em seguida. A reportagem solicitou esclarecimentos sobre a razão da exclusão e aguarda uma resposta.

O que dizem os advogados

“Os advogados Claudio Dalledone Junior e Renan Pacheco Canto tomaram conhecimento do oferecimento de denúncia pelo Promotor de Justiça Rodrigo Sanches Martins em razão da atuação profissional dos advogados em sessão de julgamento popular ocorrida na Comarca de Pontal do Paraná no dia 3.set.2024.

A providência do referido Promotor não causa surpresa, embora cause profunda indignação, pois é nítido o revanchismo pessoal do referido Promotor, já que – muito antes – especificamente no dia 26.ago.2024, os advogados apresentaram pedido de providências junto à Corregedoria do Ministério Público contra o Promotor em razão de conduta ofensiva à dignidade profissional do advogado Claudio Dalledone Júnior (juntada de manifestação com nomenclatura ofensiva e abjeta). Ademais, durante o júri os advogados requereram a expedição de ofício à Corregedoria do Ministério Público para apuração de potenciais faltas funcionais do Promotor de Justiça, o que foi deferido pela Juíza de Direito.

Portanto, a denúncia em questão não passa de um ato de vingança pessoal, até porque nenhuma das condutas narradas na denúncia configura crime e, ademais, nenhuma delas sequer foi registrada na ata do júri, circunstância que revela a absoluta improcedência da versão do Promotor de Justiça Rodrigo Sanches Martins.

Não se tem dúvida que o Poder Judiciário e os órgãos correicionais do Ministério Público colocarão um ponto final neste tipo de perseguição.”