Por Marina Sequinel e Flávia Barros

(Fotos: Flávia Barros – Banda B)

Manifestantes se reuniram no Centro de Curitiba, durante a tarde desta quinta-feira (17), para protestar contra a nomeação do psiquiatra Valencius Wurch Duarte Filho para o cargo de coordenador-geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde. Com o grito “nenhum passo atrás, manicômio nunca mais”, os participantes do ato, realizado na Praça Rui Barbosa, condenam o modo como Duarte Filho lida com o tratamento de pessoas com transtornos mentais.

“A saída do atual coordenador, Roberto Tykanori, e a nomeação de Valencius chocou o Brasil inteiro. Esse homem esteve na frente de um dos maiores manicômios da América Latina, a Casa de Saúde Doutor Eiras. Além disso, ele é desfavorável à reforma psiquiátrica, que trouxe um modo mais humanizado de tratar as pessoas com sofrimentos psíquicos e usuários de drogas ou álcool”, comentou a médica psiquiatra Sylva Cardim, uma das organizadoras do evento, em entrevista à Banda B.

A Casa de Saúde Doutor Eiras, mencionada pela especialista, foi investigada pelo Ministério Público e fechada em 2012. Entre as denúncias contra o local, estavam pacientes esquálidos, medicações inadequadas, internações indevidas e alimentação insuficiente. O manicômio ficava em Paracambi, no Rio de Janeiro.

“Com esse homem no comando, nós corremos o risco de ter uma luta de mais de 30 anos perdida. É um total retrocesso. Graças à reforma, hoje o tratamento pode ser feito em liberdade, junto à comunidade, sem estar centrada somente na figura do médico. A ideia é reconstruir a vida dessas pessoas e mudar o imaginário social sobre a ‘loucura’. Dentro de um manicômio, todos os direitos estão suspensos, não há liberdade”, completou a médica.

Um paciente do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do bairro Boa Vista também esteve na manifestação. Ex-usuário de drogas, ele está em tratamento no local há sete meses. “Eu sempre tive aversão aos internamentos e lugares fechados. No Caps, eu consegui a liberdade. No começo, nem acreditava que ia dar certo, mas deu. Nós precisamos ter uma base psicológica e social para que possamos nos tratar de forma livre”, comentou ele.

Nomeação

Valencius Wurch foi nomeado para o cargo nesta segunda-feira (14), o que provocou uma série de protestos de movimentos sociais em todo o Brasil. Uma nota do Ministério da Saúde diz que a escolha foi “técnica”, já que ele é professor de psiquiatria e coordenador de internato e residência da Universidade Federal Fluminense.

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Manifestantes protestam contra ex-diretor de manicômio que conduzirá saúde mental no país

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