O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), reagiu nesta semana ao que considera uma burla do X (antigo Twitter) às suas decisões e demonstrou ceticismo de que a plataforma esteja disposta a cumprir as determinações da corte.

Em decisão publicada nesta quinta-feira (19), Moraes determinou a aplicação de multa de R$ 5 milhões por dia ao X e à Starlink, do bilionário Elon Musk, pela suposta manobra que levou a plataforma a ficar disponível para usuários brasileiros na quarta-feira (18).

O ministro também mandou que a Polícia Federal monitore quem tem feito o “uso extremado” do X no Brasil desde que a plataforma foi bloqueada no país, em 30 de agosto.

Dono do X e acionista da empresa de internet via satélite, Musk tem feito ataques públicos ao ministro do STF na rede social.

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Ministro Alexandre de Moraes em sessão plenária do STF – Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

As duas decisões de Moraes foram expedidas na mesma semana em que a empresa deu sinais de que estaria disposta a resolver o imbróglio judicial.

Moraes, porém, afirmou a um interlocutor nesta quinta-feira que, enquanto a empresa não tiver representante legal no Brasil, ela teoricamente não existe no país.

Por isso, a petição dos advogados da companhia enviada ao tribunal dizendo que o X indicará em até 30 dias esse nome, para cumprir a determinação do STF, como mostrou a coluna Mônica Bergamo, não teria valor para Moraes.

A sinalização do ministro do STF é de que ele só ficará menos cético depois que a rede social pagar a nova multa imposta à plataforma nesta semana e constituir um procurador no Brasil.

A avaliação do ministro foi traduzida em decisão desta quinta, na qual ele informou que não reconhecerá os advogados da banca Pinheiro Neto como defensores do X enquanto a plataforma não indicar quem é o seu representante legal no país.

O escritório informou nesta quinta que voltou a advogar para a empresa de Musk perante o STF, após ter sido dispensado na semana passada.

Mas o ministro do STF deu 24 horas para os advogados comprovarem “a regularidade e validade da representação legal da empresa X” na Junta Comercial, “com indicação de seu representante, com amplos poderes, inclusive de nomeação de advogados”.

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Elon Musk durante evento no Brasil em 2022 – Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

A decisão é uma resposta a petição enviada pelo Pinheiro Neto a Moraes no qual o escritório afirma que apresentará em até 30 dias o representante legal.

No mesmo pedido, o X diz ao STF que só soube por meio da imprensa que a rede social voltou a ser disponibilizada aos usuários brasileiros na quarta.

Afirmaram ainda que a situação não decorre de “qualquer intenção de burlar a ordem de suspensão”, mas de falha técnica.

Moraes, porém, manteve a multa de R$ 5 milhões por dia pelo período em que a plataforma ficar disponível para usuários no Brasil, como ocorreu na quarta após uma manobra da empresa. Nesta quinta (19), o serviço voltou a ficar bloqueado.

O valor total da multa será calculado com base na quantidade de dias de descumprimento da determinação. A multa é direcionada prioritariamente ao X, e a Starlink responde subsidiariamente no caso de não pagamento pela plataforma.

Uma pessoa ligada ao X disse à reportagem, sob reserva, que a decisão da empresa em agosto para descumprir decisões de Moraes não foi tomada por unanimidade. Parte da equipe no Brasil e nos Estados Unidos era contrária à proposta de Musk.

Ela afirmou ainda que os impactos à Starlink e a queda de usuários foram significativos para o fato de o X buscar adotar uma postura mais colaborativa com o Supremo. Não há confirmação, porém, de que todas as contas alvo de decisões de Moraes foram bloqueadas.

Em nota publicada na própria plataforma, o X disse que a volta do funcionamento da rede no Brasil não foi intencional e sugeriu mudar de posição no embate com o Supremo.

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Foto: Yalcin Sonat/Shutterstock

“Embora esperemos que a plataforma fique inacessível novamente em breve, continuamos os esforços para trabalhar com o governo brasileiro para que ela retorne o mais breve possível para o povo brasileiro”, afirmou.

Em outra frente, Moraes mandou a PF identificar usuários que tenham feito “uso extremado” e notificá-los de que a rede social foi suspensa pelo Supremo. O ministro informou que, se for mantido ou reiterado o comportamento, caberá a aplicação de multa de R$ 50 mil.

Além de ter mandado suspender o X, Moraes estabeleceu o pagamento de R$ 50 mil a quem usar o VPN (rede virtual privada) para conseguir acesso à plataforma. A decisão foi confirmada pela Primeira Turma do Supremo no início deste mês.

Segundo investigadores, a decisão de Moraes não especifica o que seria o uso extremado da plataforma, mas integrantes da PF imaginam que isso se refira a acessos ou publicações constantes na rede social.

Alguns políticos, sobretudo críticos ao ministro do STF, têm usado a plataforma e deixado isso claro.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) fez um post no X, em português e inglês, no qual chamou apoiadores para os atos de 7 de Setembro.

“Se estou fazendo este post, assumindo todos os riscos, é porque acredito que vale a pena lutar pela nossa liberdade e a de nossos filhos”, disse. E deixou claro: “Estou postando no X, escrevendo do Brasil”.

Mesmo tom de Carla Zambelli (PL-SP). “Postando aqui, direto do X”, para anunciar a própria presença no ato de 7/9.