Por IGOR GIELOW

Dois dos principais presidenciáveis cogitados para 2022, Jair Bolsonaro e Luciano Huck não têm papel definido ainda na disputa pela Prefeitura de São Paulo neste ano. Para alguns de seus aliados, é melhor que fique assim.

(Foto: Reprodução/TV Globo)

O senso comum da política brasileira aponta que um pretendente ao Planalto precisa ter a eleição na principal cidade do país no centro de seu radar, de olho na corrida de dois anos depois.

Como o pleito de 2018 demonstrou, sabedoria convencional não anda em alta.

Presidente da República, Bolsonaro nem partido tem para lançar um nome. Ao deixar o PSL órfão de padrinho no fim de 2019, ele largou uma série de pré-candidatos à sorte -a começar por sua ex-líder no Congresso Joice Hasselmann (SP).

A sigla que Bolsonaro está montando, a Aliança pelo Brasil, dificilmente conseguirá estar pronta para 2020.

A coleta das 492 mil assinaturas necessárias para criar a sigla está em ritmo avançado, mas quem é do ramo avalia que é ínfima a chance de a Justiça Eleitoral validar o partido até 4 de abril, prazo máximo para poder indicar candidatos neste ano.

É bom negócio, dizem aliados: ele fica fora da linha de tiro direta e deixa no ar as dúvidas sobre o empuxo que o bolsonarismo teria na disputa em São Paulo sem um nome forte à frente do projeto.

A crítica ao presidente já terá garantida, pela natureza de seu papel nacional. Assim, não estar encarnado em um nome é uma vidraça a menos.

A virtual saída da corrida do apresentador José Luiz Datena, creditada por ele à colocação de cinco stents em artérias coronarianas, retira do quadro um nome associado diretamente a Bolsonaro.

Já Luciano Huck, que se comportou como candidato a presidente no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), vive situação algo diversa.

Na virada do ano, aliados do apresentador da Globo identificaram a necessidade de ele ter alguma “voz e rosto” na maior disputa eleitoral do país. Huck concordou com a tese, e foram feitas pesquisas para analisar que nomes poderiam se encaixar em tal perfil.

Até aqui, não apareceu ninguém viável. A exemplo de aliados de Bolsonaro, interlocutores de Huck têm dito que é melhor para o global não estar numa vitrine tão grande sem um ativo claro a oferecer.

Isso casa com sua relutância em admitir que é presidenciável, embora venha trabalhando nisso desde 2017.

Ainda sem filiação, o apresentador está em processo de patrocinar um “retrofit” do Cidadania, agremiação que é uma versão 2.0 do antigo PPS, que por sua vez já foi o antigo Partido Comunista Brasileiro.

A ideia é coalhar a sigla de egressos de movimentos de renovação política, como o Agora! e o RenovaBR.

Ocorre que, em São Paulo, o Cidadania já tem candidato.

Fechou com a candidatura do prefeito Bruno Covas (PSDB), o verdadeiro olho do furacão político na maior cidade brasileira.

O tratamento de Covas contra um câncer no trato digestivo lhe deu a primazia sobre sua candidatura, cuja viabilidade era posta em dúvida dentro de seu próprio partido até recentemente.

Não menos porque a doença aumentou sua exposição e a empatia do público, levantando sua intenção de voto em pesquisas internas.

A questão sobre a qual ninguém fala em público é sobre a real condição de Covas tocar a campanha durante o tratamento, o que só poderá ser aferido mesmo após a definição acerca dele: quando haverá a cirurgia prevista, já adiada uma vez, e protocolos médicos seguintes.

Essa indefinição deu peso desproporcional à discussão sobre a vaga de vice, pela especulação acerca de que uma hipotética saída de Covas da corrida para tratar da saúde.

Esse cenário abriria a vaga principal naturalmente para a pessoa ao lado do tucano na chapa.

Hoje, o nome mais bem posicionado nas discussões para a vice é o do deputado federal Celso Russomanno (Republicanos-SP), embora as conversas tenham esfriado neste começo de ano.

A tentativa do governador João Doria (PSDB), dono da cadeira de Covas antes de disputar e ganhar o governo do estado em 2018, de emplacar Joice como a vice do tucano não avançou até aqui.

Tucanos distantes do Palácio do Bandeirantes dizem que, no caso de Covas não poder ser candidato, Doria gostaria de ver Geraldo Alckmin na disputa. Aliados do governador negam tal ideia.

É um cenário que o ex-governador descarta, embora sua mulher, Lu, seja ventilada como uma possível vice do atual prefeito, caso o PSDB optasse por uma chapa puro-sangue no pleito.

Alckmin na disputa seria uma forma de o governador reforçar, no caso de obter a vitória que não conseguiu em 2008, o acordo que tem para que seu vice, Rodrigo Garcia (DEM), seja candidato à sua vaga em 2022.

Isso, claro, se nada mudar e ele permanecer presidenciável. Doria, entre os nomes óbvios colocados neste momento para 2022, está em uma situação confortável na capital.

A maioria dos nomes na disputa, como Covas, Andrea Matarazzo (PSD), Filipe Sabará (Novo) e Joice, é de pessoas que ou são aliadas, ou vão compor com ele se eleitas.

Matarazzo pode ser beneficiário da confusão. Pesquisas de dois partidos o colocam na faixa dos 5% das intenções de voto, com o ativo do baixo nível de conhecimento.

Ainda visando a 2022, está tranquilo, mas não numa situação de perspectiva de vitória na capital, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O ex-presidente dificilmente poderá disputar em 2022, mas carrega por ora o preposto que indicou em 2018, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, como opção.

O petista tem um punhado de nomes no partido para a disputa, todos feitos para perder. O que tem maior densidade na burocracia interna é o do ex-deputado Jilmar Tatto.

Já a eventual presença de Márcio França (PSB) na disputa, adversário figadal de Doria, também poderia servir a Lula e ao PT.

Estrategistas à direita e à esquerda concordam apenas que o desenho municipal tenderá a influenciar mais a disputa pelo Bandeirantes.

Aí, o que será posto à prova em 2022 será a influência do arcabouço estadual na corrida ao Planalto, vital segundo os antigos manuais de práticas eleitorais –todos rasgados na eleição de Bolsonaro.

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Bolsonaro e Huck seguem sem palanque em São Paulo

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