Vivemos a era do patrulhamento ideológico que é quando um grupo de pessoas se une contra quem pensa diferente delas. São duas as vítimas neste início de ano: Michele Bolsonaro e Cláudia Raia.
A atriz ganhou o direito de captar no mercado, através da Lei Rouanet, 5 milhões de reais para a realização de duas peças teatrais. Em contra-partida, ela vai dar aulas para jovens e crianças carentes indicadas por projetos sociais. Cláudia Raia foi eleitora de Lula, é amiga de Margareth Menezes, atual Ministra da Cultura, que no seu primeiro ato no cargo liberou mais de 1 bilhão de reais em projetos de captação.
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A ministra não assinou cheques para seus amigos e parceiros, ela apenas liberou o direito de empresas e artistas correrem atrás de patrocinadores para os seus projetos, usando a possibilidade de abater imposto de renda de empresas. Esses projetos foram apresentados durante o governo do presidente Bolsonaro, mas estavam parados numa gaveta por contra da guerra ideológica que se travou na última eleição.
A ex-primeira dama Michele Bolsonaro não foi apenas vítima deste patrulhamento ideológico mas também de preconceito. Pessoas ligadas à turma que assumiu o poder criticaram Michele por ela fazer propaganda de cosméticos no seu Instagram. Ela foi xingada, criticada, ridicularizada por outras mulheres. Mulheres que deveriam defender a liberdade e o direito à expressão, mas fizeram exatamente o contrário.
Michele, além de bonita e jovem, é livre para fazer o que tiver vontade. Em qual cartilha está escrito que uma ex-primeira dama não pode trabalhar, seja dando aulas ou vendendo cosméticos?
Talvez a primeira pessoa que deveria sair em defesa da Michele Bolsonaro fosse a atual primeira-dama Janja da Silva. Socióloga, intelectualmente bem preparada, uma ativista dos diretos humanos e dos direitos das mulheres. Janja também foi vítima de preconceito por ter se casado com um homem bem mais velho do que ela, e por ter dado sua opinião na indicação de cargos do primeiro escalão do Governo Lula. Mulheres inclusive falaram que esse não era o papel de uma primeira-dama.
Vivemos numa sociedade doente, onde mulheres morrem todos os dias vítimas de violência doméstica, onde o estupro de meninas é visto como um crime menor por boa parte da sociedade, onde mulheres são condenadas a receberem menores salários que homens na mesma posição.
Estamos em 2023, em pleno século 21, e parece que ainda vivemos na Idade da Pedra. Deixem de ser chatos e permitam que Cláudia Raia corra atrás dos seus patrocinadores, e que Michele Bolsonaro se torne uma grande influencer do mundo digital. Se queremos o Brasil unido, temos que dar um basta neste tipo de coisa para seguirmos em frente e deixarmos o passado para trás.