“Atenção, atenção, esta é uma rádio pirata. Não! Eu não sou pirata, eu sou vira-lata!” – com esse recado, tem início o podcast Meu Humano Saiu, que acaba de chegar à segunda temporada No formato de programa de auditório, a atração é conduzida por Dori, personagem inspirada na vira-lata adotada pelo casal de criadores do podcast, a dramaturga, roteirista, diretora e atriz Nicole Marangoni e o saxofonista e produtor musical Eramir Neto

Com temáticas e objetivos diferentes, podcasts focados no público infantil, como o criado por Nicole e Eramir, oferecem uma opção extra de entretenimento para as crianças, especialmente durante a pandemia. Um respiro em meio a um dia repleto de telas – nas aulas online, jogos ou TV.

Segundo Nicole, a ideia surgiu durante a pandemia, quando realizava uma pesquisa sobre dramaturgia infantil. Inspirada por leituras da obra de Lygia Bojunga, ela sugeriu ao marido que tornassem as brincadeiras que já faziam em casa com a cadelinha um podcast para dar vida aos seus “pensamentos”. Este, para a atriz, é o diferencial da produção – fugindo da linguagem usual de contação de histórias, em que os animais são meros personagens, a proposta é que Dori tenha protagonismo e “tome conta de tudo”.

 

Foto: Divulgação

Nos primeiros episódios (todos estão disponíveis no YouTube e nas principais plataformas de podcast), ela entrevista figuras como sua “miga” Formiga, que conta curiosidades sobre a sua vida, e Joaninha, que explica por que é benquista por todos. Na segunda temporada, além da maestrina Pulga Sarah, Dori ganha a companhia da repórter Pomba Gleice Leide, correspondente no Pantanal. O Tuiuiú, ave símbolo da região, é o primeiro entrevistado, que narra aos pequenos o que se passa atualmente por lá. “São questões urgentes e pertinentes que precisam ser abordadas. Quando estou escrevendo, tento muito pensar em como a personagem falaria. Quando a Dori fala sobre temas difíceis, é sempre de maneira acolhedora”, comenta Nicole.

Com cerca de 115 mil plays em 57 países, o História de Boca é outro podcast que vem conquistando os pequenos. Idealizada pelos atores Bia Borinn e Eduardo Munniz e disponível no Spotify, a iniciativa teve também como inspiração o ambiente familiar. Miguel, o filho mais velho do casal, sempre gostou de ouvir histórias improvisadas da avó – toda vez que se encontravam, pedia a ela que contasse uma “história de boca”. Quando a família se mudou para os Estados Unidos e o casal teve o segundo filho, Bia sentiu a necessidade de “criar alguma coisa” no pós-parto. Apaixonada por podcasts e notando a falta de conteúdo para crianças da comunidade lusófona no exterior, teve a ideia de criar um programa ao lado do marido. “O nome veio na hora”, relembra ela, em referência à relação de Miguel com a avó.

A proposta do História de Boca é apresentar narrativas conhecidas, como Chapeuzinho Vermelho e João e o Pé de Feijão, mas adaptadas com elementos atuais. “Vamos improvisando. Estamos sempre ligados no que está acontecendo no mundo”, explica Bia. Nesta terceira temporada, as crianças poderão conhecer uma seleção de fábulas, com destaque para as de Esopo. “As fábulas trazem contextos éticos que são importantes de discutir. Além disso, estamos pesquisando algumas brasileiras.” Em sua visão, como as fábulas compõem o imaginário infantil em muitos países, mesmo as crianças que têm um português limitado reconhecerão figuras como a tartaruga e a lebre.

Os novos episódios trazem uma série de atores convidados, como Flávio Tolezani, Iberê Thenório e Daniele Valente. “São pessoas que admiramos e muitas das quais já ouviam o podcast porque têm filhos. A recepção foi muito bacana. A gente está tentando esse ‘match’ de quem vai contar o quê; para O Leão e o Rato, por exemplo, a gente pensou no Flávio, que tem um vozerão. Dou um texto guia, mas digo para eles ‘piraram na batatinha’.”

Tanto Nicole quanto Bia destacam o potencial dos podcasts em tempos de pandemia. “Acredito que seja importante para ampliar o imaginativo da criança. A Dori, a Pulga Sarah, vêm para ajudar a construir um universo que a criança não está conseguindo acessar”, avalia a criadora do Meu Humano Saiu, ressaltando que a criação do podcast foi uma forma de ir na contramão da enxurrada de imagens e informações transmitidas visualmente para as crianças. “Pensando nisso, a gente quis lançar algo bem ativo, com desafios e interação; um momento em que o brincar em família fosse estimulado.”

Na visão de Bia, o podcast pode vir como um “descanso visual”, em um momento em que as crianças estão saturadas de ficar horas e horas em frente às telas. “É um descanso fisiológico, mas também um espaço em que elas podem criar. Na TV, a imagem está dada, falta um espaço de imaginação. Ao ouvir o podcast, cada uma forma uma imagem na mente. Se são mil crianças ouvindo, são mil imagens diferentes. A criatividade é uma janela de existência, um espaço de liberdade que foi tolhido por conta da pandemia”, comenta a atriz.

Cultura regional

Não é à toa que o Unicef, Fundo das Nações Unidas para a Infância, acaba de lançar uma série de podcasts, o Deixa que Eu Conto. Os programas, disponíveis no site da entidade (uni.cf/ 3iMOXqr) e no Spotify, trazem histórias, brincadeiras e músicas da cultura afro-brasileira. Quem comanda as apresentações são contadores de histórias negros e quilombolas, como Vovó Cici, Ivamar Santos, Suane Brazão e Kemla Baptista.

O Itaú Cultural também aposta na contação de histórias, em parceria com o Instituto Brincante. São vídeos de 25 minutos, que destacam narrativas da cultura popular. Disponíveis no itaucultural.org.br, as atrações são conduzidas por quatro arte-educadoras do Brincante. Entre os destaques, Espelho Mágico resgata brincadeiras da cultura brasileira de matriz ibérica, com uma narrativa que propõe às crianças diferentes atmosferas e cenários. Já O Macaco e a Lua traz elementos do maracatu.

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Podcasts infantis estimulam imaginação e são descanso para excesso de telas

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