POR HERCULANO BARRETO FILHO

RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Quase 18 anos depois do assassinato do jornalista investigativo Tim Lopes, da TV Globo, executado em um dos principais redutos do tráfico de drogas do Rio, um grupo de advogados quer desarquivar o inquérito graças a uma mudança na lei.

Para os criminalistas, Elias Pereira da Silva, conhecido no país e no exterior como Elias Maluco, condenado a 28 anos e seis meses de prisão por ter sido o mandante do crime, é inocente.

A advogada Alexandra Oliveira Menezes teve o primeiro contato com Elias há cerca de dois anos a pedido de um outro detento, que era cliente dela.

Tim Lopes

Em janeiro do ano passado, firmou parceria com o escritório do criminalista Eduardo Mayr. “Julgamentos como o que condenou o Elias costumam levar o dobro do tempo. Há detalhes do processo que não foram explorados. Vamos remexer com uma história que já estava enterrada”, prevê Alexandra.

Segundo a defesa, Elias estava fora do Rio no dia do homicídio. Em outubro, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou uma liminar que o colocaria em liberdade.

Com a publicação no Diário Oficial da União de um ato do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em janeiro de 2019, os advogados foram autorizados a investigar por conta própria. A mudança, que atinge o Código de Processo Penal, fez com os defensores decidissem reabrir um caso já tido como resolvido pela Justiça.

“O Elias não é o monstro que foi apresentado para a sociedade. Na época, ele foi identificado como um dos nomes da criminalidade daquela região. A sociedade queria uma resposta rápida. Quando foi julgado, o Elias já tinha sido condenado pela opinião pública e pela mídia”, diz a advogada Alexandra Oliveira Menezes.

Na sexta-feira (17), a advogada visitou Elias, detido na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR). Na próxima semana, a criminalista pretende visitar a pacata Mar de Espanha (MG), cidade com pouco mais de 12 mil habitantes próximo à divisa com o estado do Rio de Janeiro.

Ela quer localizar testemunhas que confirmem que Elias estava lá quando Tim Lopes foi capturado, torturado e executado enquanto fazia uma reportagem sobre prostituição de adolescentes em um baile funk na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio, em 2002.

Segundo a advogada, Elias estava com o irmão, o tio, o primo e outros parentes. “É uma cidade muito pequena e com sinal fraco de telefone. O Elias não teria como ordenar o crime nessas circunstâncias”, argumenta.

A defesa também pretende intimar um dos réus do caso, que estava próximo ao local do crime quando Tim Lopes foi capturado por traficantes. A identidade desse réu é mantida em sigilo pelos advogados.

O chefe de investigações da Polícia Civil encarregado pela investigação na época, afastado do caso, também deve ser procurado.

Os advogados acreditam que podem comprovar que as ossadas encontradas em um cemitério clandestino na região, na verdade, não seriam de Tim Lopes. Se essa hipótese for confirmada, os criminalistas entendem que podem pedir a anulação do processo.

A diretoria da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) disse, em nota, que a reabertura do caso sem evidências consistentes da inocência de Elias pode agravar a impunidade em ataques contra jornalistas no país.

A entidade também alerta que, na época da condenação, o Judiciário encontrou elementos para relacioná-lo com o crime.

“À época do julgamento, a polícia, o Ministério Público e o Judiciário concordaram que havia indícios suficientes da participação de Elias Maluco no assassinato. Em 2009, um recurso da defesa para realização de um novo júri foi negado. A questão precisa ser avaliada com cuidado, já que a reabertura do caso sem novas provas relevantes agravaria a prevalência da impunidade de crimes contra jornalistas no Brasil”, diz a Abraji.

Procurada, a família de Tim Lopes não quis se manifestar. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro disse não ter elementos para se pronunciar.

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Grupo quer examinar ossada e inocentar condenado pela morte de Tim Lopes

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