O tempo seco agravado com os incêndios em Rio Branco deixa crítica a rotina dos moradores. A capital do Acre teve a pior qualidade do ar no país no início desta segunda-feira (23), segundo o Monitor de Qualidade do Ar da Folha de S.Paulo. Prefeitura e governo chegaram a suspender aulas por duas semanas para evitar prejuízo na saúde dos alunos.

Os trabalhadores a céu aberto, porém, não conseguem driblar o forte calor. Na semana passada, enquanto varria uma calçada no centro, Rosineide Alves Ribeiro, 38, passou mal e desmaiou. Ela passa oito horas por dia exposta ao forte calor e acabou sofrendo com os efeitos da mudança climática.

“Minha vista começou a ficar escura. Procurei um local para me apoiar mas não deu tempo, desmaiei na calçada. Acordei com as pessoas me socorrendo”, contou.

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Foto: Divulgação/ Pedro Devani/Secom/ Acre

Rosineide foi vítima das altas temperaturas que tem sido registradas no estado nas últimas semanas. Nesta segunda-feira (23), os termômetros marcaram 37ºC, com sensação térmica de 42ºC, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

No dia em que a cidade amanheceu com a pior qualidade do ar entre as capitais, o carpinteiro profissional Edson Ferreira da Silva, 50, sentiu os efeitos. Ele descansava sob um palco montando no dia anterior. Usando camisa de manga longa e boné para se proteger do sol escaldante contou que sente falta de ar e os olhos arderem por causa da fumaça.

“A garganta fica coçando e os olhos ardem. Eu trabalho um pouco e procuro uma sombra para dar uma aliviada. Não tem como ficar trabalhando direto com essa quentura”, disse.

Nas ruas, muitas pessoas passaram a usar máscaras para atenuar os efeitos da fumaça dos incêndios no estado.

“Coloco a máscara de manhã e na hora do almoço ela já está amarela, de tanta sujeira da fumaça. Sem contar os olhos da gente que não param de arder”, disse a frentista Maria Francilene Rocha dos Santos.

No sábado (21), o rio Acre registrou atingiu 1,23 m, a menor cota registrada na história desde que o monitoramento por órgãos ambientais teve início, em 1971.

Na última sexta, o governo do estado decidiu suspender as aulas em cinco cidades, inclusive Rio Branco. A prefeitura da capital decidiu manter o ano letivo.

Dados da plataforma IQAir, da Organização das Nações Unidas e do Greenpeace, apontaram que Rio Branco tinha um índice de 626 às 7h desta segunda, classificado como perigoso (o nível mais alto). Além disso, a cidade ficou na liderança entre as cidades mais poluídas do país, com o ar quase 77,7 vezes mais poluído do que o aceitável pelos órgãos de monitoramento.

Às 18h, o índice tinha recuado para 106, o que indica uma situação insalubre para grupos sensíveis.

A Secretaria Estadual de Meio Ambiente informou que realiza monitoramento ambiental, por meio do Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (Cigma), produzindo boletins diários dos níveis dos rios, qualidade do ar, previsão do tempo, focos de queimadas e alertas de desmatamento, que são repassados aos órgãos ligados ao sistemas de Meio Ambiente e Segurança Pública.

Em nota, o governo do Acre informou que tem realizado uma série de ações para amenizar a seca extrema e as queimadas no estado.

É realizado monitoramento com elaboração de boletins diários dos níveis dos rios, qualidade do ar, previsão do tempo, focos de queimadas e alertas de desmatamento, com 170 brigadistas que atuam diariamente no combate a focos de incêndios.

Para cidades e comunidades isoladas, afirma o governo, foram enviadas cestas básicas e outros mantimentos, inclusive para terras indígenas.