Tradicionalmente chuvosa durante o inverno, a região Sul do país está sofrendo neste ano com frentes frias e ciclones extratropicais especialmente fortes, que provocam chuvas torrenciais e, consequentemente, alagamentos, como os que atingem o Rio Grande do Sul desde o fim de semana, matando ao menos 21 pessoas.
Entre junho e julho, outros ciclones já haviam provocaram mais de 20 mortes, destruição e queda de energia na região.
E a previsão para os próximos dias não traz alento para os gaúchos. Segundo os institutos de previsão do tempo, uma nova zona de instabilidade está se formando sobre a Argentina e deve chegar ao Rio Grande do Sul nesta quinta (7), com potencial para mais chuva forte, o que manterá os rios acima do nível normal.
Segundo boletim do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o tempo chuvoso também deve chegar a Santa Catarina e Paraná.
“A partir da próxima quinta (7), um novo sistema frontal (frente fria) vai provocar grandes volumes em grande parte do centro-sul da região. Considerando a atuação dos dois sistemas, os acumulados de chuva podem ultrapassar 80 mm em áreas do sul do Paraná e de Santa Catarina e 150 mm em grande parte do Rio Grande do Sul. Já no extremo norte do Paraná, a previsão é de volumes inferiores a 20 mm”, destaca o comunicado.
O Inmet alerta ainda que já existe a previsão para uma nova frente fria chegar ao país na semana que vem, entre os dias 12 e 13. O meteorologista Olívio Bahia afirma que é normal nesta época do ano a formação de pelo menos um ciclone extratropical por semana na região sul. Mas ele pede cuidado com a sequência que está atingindo o Rio Grande do Sul.
“A chuva desta quinta até sábado é bastante preocupante porque são esperados volumes altos. Não dá para dizer pontualmente onde vai cair, mas parte do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina está na rota e pode chegar ao Paraná”, diz o especialista. “Está tudo encharcado, rios cheios, e daqui a pouco está vindo chuva novamente.”
Segundo Estael Sias, meteorologista e sócia-diretora da MetSul, “a ‘sorte’ é que, nesse evento, a chuva pesada vai pegar a metade sul e oeste do Rio Grande do Sul e parte do Uruguai. Também choveu lá [nos últimos dias], mas não tanto.”
Olívio Bahia explica que essa onda de chuvas torrenciais não foi provocada por um ciclone extratropical, mas sim por uma massa de ar quente e úmida formada mais ao Sul que esfriou quando chegou ao país, aumentando a nebulosidade e provocando as tempestades.
“A frente fria já estava na região desde o fim de semana e o ciclone só se formou na madrugada de segunda, o que deu um gás no caos que já estava instalado”, diz.
Já Sias diz acreditar que essa chuva acima da média já é o início da influência do El Niño, fenômeno que aquece a água do oceano Pacífico, provocando mudanças no clima mundial.
“Este setembro, pelo que já choveu e ainda se prevê, pode ser assombrosamente chuvoso no Rio Grande do Sul, na avaliação da MetSul Meteorologia, podendo figurar como um dos mais chuvosos da história gaúcha. Os próximos meses seguirão com chuva acima a muito acima da média com novos extremos de chuva”, afirma Sias.
O meteorologista do Inmet diz que ainda é cedo para confirmar se já estamos sob influência do El Niño, o que dará para saber apenas depois de setembro. Ele, porém, destaca que o sistema de chuvas do país está mudando com a aproximação da primavera, que se inicia no dia 23 deste mês.
Com isso, a região central do país, que estava havia meses sem chuva, começa a ter umidade e, consequentemente, precipitações.
E a região Sudeste também terá chuvas mais frequentes. “A instabilidade começa a atingir São Paulo. Pode ter na região Sudeste como um todo, mesmo que pontual. Daqui para frente, começa a ser comum”, afirma Bahia.