O governo do Rio de Janeiro afirmou nesta sexta-feira (31) que até o momento 99 mortos na Operação Contenção, contra o Comando Vermelho, foram identificados. Entre eles, 40 são de outros estados, como Pará, Amazonas, Bahia, Goiás, Espírito Santo, Ceará e Paraíba.
De acordo com o delegado Felipe Curi, secretário da Polícia Civil, desses 99 identificados, 42 tinham mandado de prisão pendente e ao menos 78 tinham histórico criminal relevante, como homicídio, tráfico de drogas e organização criminosa. Durante coletiva nesta sexta-feira (31), o governo tratou todos os 117 suspeitos mortos na operação nos complexos do Alemão e da Penha como “narcoterroristas”.

A divulgação acontece três dias após a polícia realizar a Operação Contenção contra o Comando Vermelho, que se tornou a ação policial mais letal da história brasileira, com 121 mortos –sendo quatro policiais.
Felipe Curi, secretário da Polícia Civil do estado, defendeu mobilização nacional contra o crime.
“É preciso que haja uma mobilização nacional no sentido de combate a essa organização criminosa. Importante que a legislação existente, completamente desconectada da realidade, seja atualizada para que as polícias possam dar uma resposta a altura”, disse.
Victor Santos, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, afirmou que não vai ocorrer ocupação militar da favela e que isso não é solução para o combate ao crime organizado. De acordo com ele, a solução é a retomada dos territórios e que esse plano está sendo construído.
Ele também disse que a Operação Contenção é contínua, uma política pública, que já teve outras fases, e que a ação de terça (28) foi mais uma delas.
A Polícia Civil afirmou que até a noite de quinta-feira (30) cerca de cem corpos relacionados à Operação Contenção já haviam passado por necropsia e que parte deles foi liberada para retirada dos familiares. Desde terça, 15 corpos foram retirados.
O trabalho no IML (Instituto Médico Legal) é realizado por peritos da Polícia Civil e acompanhada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que deve elaborar laudos próprios com peritos independentes.
A Defensoria Pública afirmou nesta quinta-feira (30) que pediu para acompanhar as perícias nos corpos recolhidos após a operação nos complexos do Alemão e da Penha, mas que foi negada a entrada no IML.
A entidade argumenta que o acompanhamento faz parte da atuação na ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas, determinada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A Polícia Civil afirmou que o acesso ao IML está limitado a policiais civis e membros do MP.
A operação
A operação policial tinha como objetivo prender membros do Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da cidade.
A ação e a resposta do Comando Vermelho —que usou armamento pesado e ordenou o fechamento de vias— deixou diversas regiões da segunda maior cidade do país com um cenário de guerra, com caos nas ruas, tiroteios e veículos queimados.
Suspeitos de integrar o Comando Vermelho chegaram a usar drones para lançar bombas contra as equipes policiais e a população da Penha, para atrasar o avanço das forças de segurança durante a manhã desta terça.

A invasão nas comunidades foi considerada um “sucesso” pelo governador Cláudio Castro (PL), que, na manhã de quarta-feira (29), fez um balanço e afirmou que o episódio deixou apenas quatro vítimas, em referência aos policiais que morreram durante o confronto.
A megaoperação policial tinha como objetivo cumprir 70 mandados de prisão de membros do Comando Vermelho em 180 endereços. Segundo o governo estadual 113 pessoas foram presas na ação, mas não divulgou quantos mandados foram cumpridos. Além disso, os agentes apreenderam mais de cem fuzis que eram usados pela facção.
A operação, no entanto, não conseguiu prender Edgar Alves de Andrade, o Doca, principal líder da facção, que segue foragido.
Ele era o principal alvo da operação e já tinha mandado de prisão preventiva expedido antes da ação.
Segundo Victor Santos, secretário de Segurança Pública do Rio, Doca usou traficantes para fazer uma barreira e escapar. O Disque Denúncia do Rio oferece R$ 100 mil para quem tiver informações sobre ele.