Entre domingo (24/5) e segunda-feira (25/5), diversos veículos de imprensa internacionais publicaram longos artigos e reportagens com duras críticas à resposta do presidente Jair Bolsonaro à crise gerada pelo novo coronavírus.
O brasileiro é descrito um “líder vingativo”, com atuação “irresponsável e perigosa”, que investe seu tempo em brigas com juízes, parlamentares e “até os próprios ministros” enquanto governadores pedem ajuda.
“Quebrar o Brasil” e “levar o país ao desastre” são alguns dos prognósticos associados à atuação do presidente, descrito como um dos raros negacionistas da gravidade da pandemia e tem sua atuação apresentada como uma das piores em todo o planeta.
Quatro eixos principais dão contexto aos materiais publicados: o vídeo da reunião ministerial em que Bolsonaro supostamente exporia sua intenção de interferir em investigações contra familiares e pessoas próximas, a gestão ambiental do governo em meio à pandemia, o veto imposto pelo aliado Donald Trump à entrada nos EUA de pessoas que estiveram no Brasil e a insistência do presidente brasileiro em minimizar a pandemia e incentivar aglomerações públicas.
Diferente da narrativa governista, que costuma atribuir as críticas à esquerda, as análises negativas também estampam as páginas de veículos tradicionalmente conservadores, como o jornal britânico The Telegraph.
O mesmo vale para ícones mundiais do liberalismo econômico, celebrado pelo ministro Paulo Guedes (Economia) e pelo filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, como é o caso do jornal Financial Times.
Na manhã desta segunda-feira, em frente ao palácio do Alvorada, o presidente foi questionado por uma apoiadora sobre a imagem negativa de sua gestão no exterior.
“A imprensa mundial é de esquerda”, insistiu o líder brasileiro, citando mais uma vez o presidente norte-americano. Em descompasso com Bolsonaro, Trump tem descrito o Brasil como alvo de um “surto”, “duramente atingido” e vivendo “um momento difícil” em meio à pandemia.
“O Trump sofre muito nos Estados Unidos também”, disse o presidente brasileiro.
Financial Times
A publicação mais comentada nesta segunda-feira vem do jornal britânico Financial Times.
Um artigo assinado por Gideon Rachman, colunista-chefe para assuntos internacionais do jornal, aponta no título que “o populismo de Jair Bolsonaro está levando o país para um desastre”.
O texto compara as respostas de Bolsonaro e de Trump à pandemia, classificando a do brasileiro como “ainda mais irresponsável e perigosa”.
O texto cita a “obsessão dos dois líderes pelas supostas propriedades de cura” da hidroxicloriquina. “Mas, enquanto Trump simplesmente está tomando o remédio, ele mesmo, Bolsonaro forçou seu Ministério da Saúde a lançar novas diretrizes recomendando a droga para pacientes de coronavírus.”
O paralelo se repete em relação ao apoio de ambos a protestos contra medidas de isolamento. Trump, segundo o texto, expressou simpatia aos manifestantes. Já Bolsonaro foi além e participou dos atos.
O especialista conclui que o Brasil será duramente afetado econômica e socialmente conforme a doença se espalha pelo país. Para Rachman, “Bolsonaro obviamente não é culpado pelo vírus”, mas pela “resposta caótica que permitiu que ele fugisse do controle”.
O texto cita um paradoxo em sua conclusão – apesar da gestão do presidente aprofundar a crise no país, ela pode ajudá-lo politicamente – já que o vírus impede grandes manifestações, como as registradas durante o impeachment de Dilma Rousseff.
Para o analista, “Bolsonaro prospera por meio de políticas que dividem”.
“Mortes e desemprego causados pela covid-19 estão sendo exacerbados pela liderança de Bolsonaro. Mas, perversamente, um desastre econômico e de saúde pública pode criar um ambiente ainda mais propício para a política do medo e da irracionalidade”, diz o autor, no jornal inglês.
The Telegraph
O jornal conservador The Telegraph vai além e diz que Bolsonaro pode ficar conhecido como “o homem que quebrou o Brasil”.
O texto cita declarações recentes do presidente, que classificou a pandemia como “histeria” e “resfriadinho”, e disse que estaria imune aos sintomas mais graves da doença graças a seu “histórico de atleta”.
“Dois meses e 340 mil casos confirmados depois, o pequeno resfriado ceifou as vidas de pelo menos 20 mil brasileiros, e provavelmente muitos mais”, aponta o jornal.
NYT
Nos EUA, o jornal The New York Times destacou o veto de Trump a viajantes vindos do Brasil.
“Enquando hospitais colapsam e governadores imploravam por ajuda, Bolsonaro passou os últimos meses brigando com a Suprema Corte, com o Congresso e até com seus próprios ministros”, diz o jornal. “Agora ele se vê como alvo de uma investigação que apura se ele protegeu sua família de investigações sobre corrupção.”
O NYT aponta que o presidente brasileiro vê sua aprovação caindo, enquanto a pandemia está fora de controle no país.
Segundo o jornal americano, o bloqueio vindo de um aliado como Trump é um revés para Bolsonaro, que “repetidamente tentou ganhar capital político a partir de sua afinidade ideológica com o presidente americano”.
Para ler a matéria completa na BBC Brasil clique aqui.
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De ‘quebrar Brasil’ a ‘levar país a desastre’, a imagem de Bolsonaro na imprensa internacional
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