A seca na Colômbia fez o prefeito de Bogotá, Carlos Fernando Galán, sugerir que os moradores da capital deixem de tomar banho por um dia caso não saiam de casa e entrem no chuveiro em casal para economizar água.
“Se, no domingo, você não sair de casa, aproveite e não tome banho. Aguente em casa durante o fim de semana e, na segunda, tome banho”, afirmou o político à emissora Noticias Caracol nesta quarta-feira (10). Durante a entrevista, ele também disse ter diminuído para três minutos o tempo no chuveiro. “Tomem banho em casal. Trata-se de um exercício pedagógico de economia de água, não de outras coisas.”
Com seus pântanos, rios e lagoas, a Colômbia é considerada uma potência hídrica. A falta de chuvas das últimas semanas, porém, fez Bogotá e outros onze municípios adotarem a partir desta quinta-feira (11), racionamentos que afetarão cerca de 10 milhões de pessoas. Os bairros vão ficar sem água por 24 horas a cada 10 dias, dependendo do turno que lhes corresponda.
“A situação é crítica”, reconhece Galán, que não descarta a manutenção da situação de emergência até o final do ano.
O culpado é o fenômeno climático El Niño, que desde o início do ano tem causado estragos na Colômbia, especialmente na região andina central. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o local atingiu “temperaturas incomuns” de até 24 graus Celsius. Em janeiro, a seca causou centenas de incêndios que consumiram mais de 17 mil hectares de floresta.
Nesta quinta, um caminhão-pipa distribui água nas íngremes ruas de La Calera, cidade nos arredores de Bogotá que fornece 70% da água que chega a capital. Nos últimos dias, a queda no nível de água de suas represas revelou ilhas de terra no que é, segundo as autoridades, o pior momento das barragens desde a década de 1980, quando foram construídas.
Os 36 mil habitantes desse município sofrem cortes no abastecimento de água desde fevereiro, quando a Prefeitura ordenou uma restrição de quatro horas diárias.
Alertada pela buzina do carro, Clara Escobar saiu de casa com baldes para garantir alguns litros de água do caminhão. “Há coisas que não podemos fazer, como lavar o carro, o animal de estimação, os sapatos”, diz a designer gráfica de 36 anos. “A limpeza da casa não é feita com tanta frequência.”
O prefeito de La Calera, Juan Carlos Hernández, descreve como o riacho de San Lorenzo, fonte de água do município, secou. “O fluxo diminuiu: de 23 litros por segundo que tínhamos a possibilidade de captar, baixamos para nove, dez litros por segundo”, afirma.
Após o início do racionamento, a ministra do Meio Ambiente, Susana Muhamad, afirmou que a seca se deve a uma “nova realidade climática” e a condições às quais a cidade e a região precisam se adaptar. Segundo ela, só no final de abril ou início de maio as chuvas aliviarão a emergência nas represas.
Na capital vários restaurantes escolheram lavar pratos com água recolhida em baldes nesta quinta. Nos dias anteriores ao racionamento, a empresa pública de abastecimento registrou um aumento no consumo e alertou que, se a tendência se mantiver ou aumentar, adotarão medidas mais restritivas quando avaliarem os resultados, dentro de duas semanas.
Para o presidente colombiano, Gustavo Petro, Bogotá está sendo mais afetada pela onda de calor do que a árida ponta norte do país.
“Nossa previsão sobre a crise climática (…) nos fez acreditar que seria La Guajira [departamento no norte] o ponto mais crítico. Hoje em dia está em Bogotá”, escreveu o presidente na rede social X. “Haverá secas piores do que a que estamos enfrentando.”
Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.
Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática), já afirmou em relatório que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi causada pela ação humana.