NELSON DE SÁ

Sentado ao lado do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez seu primeiro discurso na cúpula do G7, na tarde deste sábado (20), horário local, em uma sessão cujo tema era a cooperação internacional para enfrentar crises globais.

Em crítica ao próprio G7 —grupo que reúne algumas das maiores economias desenvolvidas—, afirmou que a solução para as ameaças sistêmicas atuais “não está na formação de blocos antagônicos ou em respostas que contemplem um número pequeno de países”.

Lula e Biden durante reunião no G7, em Hiroshima, Japão — Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Citando o “retrocesso” da paralisação da Organização Mundial do Comércio (OMC), sem creditar nominalmente os Estados Unidos, afirmou que “não faz sentido convocar emergentes para resolver as crises do mundo sem atender às preocupações deles”.

E “sem que estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global”, acrescentou, retomando a cobrança por uma reforma na composição de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Conselho de Segurança das ONU.

Trouxe o exemplo da crise argentina. “O endividamento externo que vitimou o Brasil no passado e hoje assola a Argentina é causa de desigualdade e requer do FMI que considere as consequências sociais de suas políticas de ajuste”, afirmou.

A sessão de trabalho na qual o discurso foi feito resultou em um comunicado sobre a crise de segurança alimentar, assinado tanto por líderes dos países-membros do G7, como os EUA, quanto por convidados, como o Brasil. O texto foi negociado pela chancelaria brasileira para buscar neutralidade.

Os líderes listam as ações que pretendem tomar, “em cooperação com a comunidade internacional, para fortalecer a segurança alimentar e nutricional global”. Concentram-se na “crise imediata”, citando a Guerra na Ucrânia, que “agravou ainda mais o quadro” pós-pandemia.

“Especialmente à luz de seu impacto na segurança alimentar e na situação humanitária em todo o mundo, apoiamos uma paz justa e duradoura baseada no respeito ao direito internacional, aos princípios da Carta da ONU e à integridade territorial e a soberania”, afirma o comunicado.

Entre as ações, inclui “apoio à exportação de grãos da Ucrânia e da Rússia” e “a recuperação do setor agrícola na Ucrânia”. Além de outras como “apoiar a assistência humanitária multissetorial a países em crise e com níveis de emergência de insegurança alimentar aguda, como aqueles no Chifre da África”, prossegue, em referência à região formada Etiópia, Eritreia, Somália, Djibouti, Quênia e Sudão.

Em meio ambiente, ‘queremos liderar’

Em seu segundo discurso, em sessão de trabalho sobre sustentabilidade, Lula voltou a cobrar os países desenvolvidos por promessas não cumpridas e ofereceu a liderança do Brasil no tema do meio ambiente.

O Protocolo de Kyoto, disse o presidente, “se tornou referência da falta de ação coletiva”. Defendeu não permitir que também “sejam esvaziadas” as três convenções originadas Eco-1992. E insistiu para “que os países ricos cumpram a promessa de alocarem US$ 100 bilhões [R$ 500 bilhões, na conversão atual] por ano à ação climática”, como acordado na COP de Copenhague.

O petista propôs ainda “atacar o desafio político” da falta de liderança, dizendo que para isso “as credenciais do Brasil são sólidas”, como é o caso de matriz energética, por exemplo, “entre as mais limpas do planeta”. Em suma: “Queremos liderar o processo que permitirá salvar o planeta”.