O Coritiba teve o aval definitivo para a venda da Sociedade Anônima do Futebol para a Treecorp nesta semana. Com as aprovações da juíza Luciane Pereira Ramos, da 2ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de Curitiba, e do Ministério Público, não há mais nenhum trâmite jurídico obrigatório. A consolidação da SAF acontecerá nos próximos dias, com transferências de titularidade e os contratos definitivos sendo assinado. Agora, não há nenhum “mas” para o fundo de investimentos paulista ser considerado dono do Coxa. “Mas” não foi uma trajetória simples.

Com um enorme montante de dinheiro envolvido, o contrato entre Coritiba e Treecorp levou meses para ser desenhado. Uma série de detalhes, dos mais banais aos mais complexos, estão incluídos no acordo de 497 páginas – e mais 71 de aditivos. Os dois lados precisavam se garantir em todas as possibilidades que o futebol, que desafia planejamentos, investimentos e estruturas, pode oferecer. Tanto que a venda da SAF pode ser considerada fechada desde o início de 2023, mas tudo ficou definitivamente no papel no final de maio.

A partir do acordo fechado, foram quatro capítulos até a aprovação desta semana. Internamente, não havia maiores preocupações pela aprovação. Sócios e conselheiros do Coritiba já tinham sido consultados quando da criação da SAF, e deram apoio maciço. Os pareceres dos conselhos admitiam que a situação do clube poderia se tornar inviável caso não houvesse um aporte significativo – e que ele só aconteceria com um investidor assumindo o Coxa. Assim, a Treecorp tinha um ambiente favorável dentro do Couto Pereira.

A briga na Justiça

Com as aprovações do acordo por conselheiros e sócios do Coritiba, os documentos foram enviados para a 2ª Vara de Falências e Recuperação Judicial. No dia 6, uma manifestação pediu a não homologação do acordo. Ela veio do escritório que defende os direitos de diversos atletas e ex-atletas, como Alex Alves, Giancarlo, Giovanni, Jéci, Leandro Donizete e Sabino, além do histórico Miro Bueno, formador de vários talentos do Coxa.

Segundo a manifestação, o Coritiba havia informado de forma “vaga e imprecisa” a alienação do Couto Pereira. Além disso, discordava dos valores da alienação e da falta de apreciação dos credores do plano da Treecorp. Em resposta, a juíza Luciane Pereira Ramos disse que o plano de recuperação judicial foi aprovado pela maioria dos credores, as citações ao estádio estavam claras e que foi permitida a todos o acompanhamento do que se denominou de “processo competitivo” – a abertura para outros possíveis interessados na SAF.

Definição para o Coritiba

Este é um período que foi pouco divulgado. Foi aberto um edital para que investidores pudessem fazer suas propostas. O período de “processo competitivo” foi de 15 dias úteis – quer dizer, três semanas completas. Os interessados deveriam levar ao judiciário as ofertas pelo Coritiba, em envelopes lacrados que só seriam abertos em uma audiência pública. Mas, como disse a juíza Ramos em seu despacho, “não foi apresentada nenhuma proposta em juízo”. Coxa e Treecorp tinham o caminho livre.

Na segunda-feira (19), a magistrada homologou o resultado, com a Coxa Participações S.A., formada pelo Coritiba e pela Treecorp, como a vencedora do processo. Nos documentos da Justiça, essa empresa é denominada como “Stalking Horse Bidder” – termo usado para a empresa que, em acordo com o devedor em RJ, faz uma proposta para “definir a estrutura do negócio (quais ativos serão objeto da venda)”, como indica um trecho do despacho desta quinta-feira (22). Com esse posicionamento, o Ministério Público também foi favorável à venda da SAF.

Agora, será lavrado o “auto de arrematação”, que será o documento de garantia da aprovação da Justiça e do MP à venda do Coritiba para a Treecorp. Quando forem terminados todos os movimentos internos entre o clube e o fundo de investimentos, será feita a mudança definitiva para a SAF, com os representantes da diretoria eleita passando a ter papel fiscalizador do trabalho do Conselho de Administração, que será presidido por Bruno Levi D’Ancona, do CEO Carlos Amodeo e do head de futebol Artur Moraes.

Bruno Levi D'Ancona, sócio da Treecorp, dona da SAF do Coritiba.
Bruno Levi D’Ancona deverá ser o presidente do Conselho de Administração do Coritiba. Foto: Reprodução