Rio Branco teve apenas 12 jogadores na volta do Paranaense. (Divulgação)
Na cidade portuária de Paranaguá, o vereador Ratinho precisou deixar de lado por uns dias as atribuições políticas para voltar a jogar futebol pelo time da cidade paranaense, o Rio Branco. Após quatro anos aposentado e mesmo sem ter treinado, aos 40 anos ele calçou as chuteiras para a equipe conseguir ter 11 titulares nos compromissos restantes pelo Campeonato Paranaense. O esforço dele é o mesmo de tantos outros times, jogadores e dirigentes pelo Brasil: ter de voltar a jogar se tornou muitas vezes um fardo após a pandemia do novo coronavírus.

A paralisação de quatro meses exigiu dos clubes menores empenho gigantesco para cumprir os compromissos adiados, pois o calendário passou a durar bem mais do que o orçamento cobriria. Os recursos minguaram, os jogadores ficaram sem contrato e os técnicos e dirigentes precisaram ser criativos.

Justamente o sufoco por não ter elenco fez o Rio Branco tirar um membro da Câmara de Vereadores de Paranaguá. O time estava nas quartas de final do Paranaense, porém não teve condições de renovar o contrato de todos os atletas. Como o atacante e vereador Ratinho estava inscrito porque planejava fazer um jogo oficial de despedida, precisou ser acionado para completar time diante do Cascavel.

“Nos dois jogos finais nós só tínhamos os titulares e um goleiro reserva. Sorte que ninguém se machucou. A equipe precisava jogar porque, se não entrasse em campo, poderia ser punida com o rebaixamento. Eu nem cheguei a treinar com o time”, contou Ratinho. Apesar do espírito esportivo, o Rio Branco perdeu os dois jogos: 3 a 0 e 5 a 0.

Em termos de compromisso com o time, poucos exemplos superam o do preparador físico José Lummertz, do Aimoré (RS). Nem uma enchente o deteve. No dia em que a equipe se reapresentou, 10 de julho, ele só conseguiu sair de casa graças a um caiaque. Sua filha registrou em vídeo o esforço do pai para não perder o treino. “A minha presença era muito importante. Os treinos iam recomeçar e eu precisava avaliar os jogadores. Muitos vieram de longe só para jogar o campeonato”, explicou.

Lummertz vive em Sebastião do Caí (RS), a cerca de 30 quilômetros de São Leopoldo, cidade do Aimoré. Por morar em um prédio próximo a um rio e estar acostumado com rotineiras enchentes, o preparador se precaveu e deixou na noite anterior o carro estacionado a algumas quadras de casa, em região mais alta Mas, para chegar ao veículo, pegou emprestado o caiaque de um vizinho e remou por 250 metros. “Só cheguei 15 minutos atrasado (ao clube).”

Para o goleiro Wallef, do Afogados (PE), a volta do calendário significou ter de abrir mão de uma ocupação diferente iniciada na pandemia. Quando o futebol parou, seu contrato terminou e a saída foi iniciar outra carreira. Wallef retornou à cidade natal, São José do Calçado (ES), e por lá atuou durante 45 dias como secretário municipal de Esportes. Foi uma forma de garantir algum salário.

“Eu sou amigo do prefeito e ele me convidou. Consegui realizar melhorias em algumas praças e fiz requerimento para uniformes novos para as crianças. Também ajudei em projetos culturais”, contou ao Estadão.

A gestão de Wallef terminou quando o Campeonato Pernambucano recomeçou. “O futebol sempre foi a minha prioridade. Só trabalhei como secretário porque estava sem contrato e sem salário. Ainda bem que o campeonato voltou, mas, depois de tanto tempo parado, recomeçar foi difícil.”

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Superando limitações, times do interior sofrem para recomeçar na pandemia

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