"Hamilton virou embaixador da memória do Ayrton", diz sobrinha de Senna
Hamilton participou de evento ao lado de Viviane Senna. Foto: Reprodução/Facebook Instituto Ayrton Senna

A morte de Ayrton Senna vai completar 29 anos em maio de 2023. Mas a memória do tricampeão mundial de Fórmula 1 segue viva tanto entre os brasileiros quanto entre os fãs de automobilismo pelo mundo. E um dos principais responsáveis por relembrar os feitos do ídolo nacional é um piloto inglês. Nos últimos anos, Lewis Hamilton se tornou um “embaixador da memória” de Senna, diz uma das sobrinhas de Ayrton.

“O Hamilton tem sido sensacional desde o início da carreira dele. Ele sempre demonstrou um respeito e um carinho enorme pela nossa família e pelo próprio Ayrton. Ele aceitou muitos pedidos e convites que fizemos nos últimos anos e se tornou um embaixador da memória do Ayrton”, diz Lalalli Senna, em entrevista ao Estadão.

A relação entre a família Senna e Hamilton vem se estreitando a cada ano. O heptacampeão mundial viveu um dos momentos mais emocionantes de sua carreira em 2017 ao receber de presente uma réplica do emblemático capacete de Senna, na cor amarela. Na ocasião, a homenagem da família do tricampeão fazia referência ao feito do inglês de empatar com Senna no número de pole positions na F1 (65) – Hamilton veio a superar a marca e detém o recorde atual de 103.

“Estou tremendo”, disse o inglês ao receber o presente. O GP do Canadá daquele ano, local onde o piloto foi agraciado pela família Senna, ficou marcado pelas fotos de Hamilton abraçado ao capacete, até mesmo quando desfilou na pista sentado na porta do safety car.

Laço fortalecido

No GP de São Paulo, nesta semana, Hamilton fez mais um gesto para fortalecer este laço com a família do brasileiro. Ele visitou a Escola Estadual Lasar Segall, que conta com o apoio do Instituto Ayrton Senna. Lá, o heptacampeão conversou com estudantes e com Viviane Senna, irmã de Ayrton e presidente da entidade.

“Nós temos um carinho e um amor enorme pelo Hamilton. Não posso dizer que é amigo pessoal porque não faz parte do nosso dia a dia. Mas todos os encontros são sempre muito positivos, de muito coração, tanto da parte dele quanto da nossa parte. A gente tem um respeito e uma admiração enorme por ele, cada vez maior”, afirmou Lalalli.

A sobrinha de Senna reconhece até que a relação de Hamilton com o ídolo ajuda a divulgar as ações do Instituto. “Tudo o que ele faz tem um impacto gigantesco e é claro que isso é muito maravilhoso para a memória do Ayrton e ajuda a propagar esta memória pelo mundo todo.” Ela, contudo, enfatiza que o heptacampeão mundial não é oficialmente um representante da marca.

Lalalli vê semelhanças entre as trajetórias do brasileiro e do inglês, muito além dos títulos da F1. “Ambos enfrentaram muitos preconceitos na vida. Para quem não era do Brasil, o Ayrton podia ser visto como o cara que não daria certo. Ninguém imaginava que um brasileiro iria se destacar num meio tão elitista, tão difícil.”

“Isso inspirou o Hamilton a enfrentar os preconceitos que sofreu desde a infância. É muito genuíno que o Ayrton era um herói para ele, de verdade. Tendo conhecido ele um pouquinho melhor, dá para ver que enfrentou muitos desafios para se tornar quem ele é hoje.”

Para Lalalli, Hamilton retribui com o mesmo exemplo, ao visitar as crianças de baixa renda na escola na zona sul de São Paulo. “Ele recebeu as crianças, conversou com elas e as incentivou a serem o melhor possível. O Hamilton tem os mesmos valores que o Ayrton tinha, não é à toa que ele se sente tão conectado. Além de tudo, ele tem um amor enorme pelos brasileiros. De certa forma, ele ajuda a todos nós a contar a história do nosso País através do seu testemunho.”

Hamilton faz dobradinha com Russell em Interlagos

A 50ª edição de um Grande Prêmio no Brasil teve emoção e feito inédito neste domingo (13). O britânico George Russell conquistou sua primeira vitória na carreira na Fórmula 1 ao liderar de ponta a ponta a corrida no Autódromo de Interlagos. O compatriota Lewis Hamilton ficou em segundo, marcando a primeira dobradinha da Mercedes na temporada. O espanhol Carlos Sainz Jr, da Ferrari, completou o pódio em dia de recorde de público no circuito paulistano.

A corrida foi marcada por pequenos acidentes, com a entrada de safety car por duas vezes. Bicampeão por antecipação, o holandês Max Verstappen não teve um bom domingo e terminou na modesta sexta posição. Destaque para o espanhol Fernando Alonso, da Alpine, que ganhou 12 posições e terminou em quinto.

O GP de São Paulo também registrou quebra de recorde de público, com a presença de 235.617 pessoas em Interlagos ao longo do fim de semana.

A corrida começou com acidentes. Logo na primeira volta, na curva do Pinheirinho, Daniel Ricciardo, da McLaren, tocou na Haas de Kevin Magnussen, fez o dinamarquês rodar e acertar o próprio australiano, provocando o abandono de ambos e a entrada do safety car na pista.

No reinício da prova, na saída do “S do Senna”, Hamilton e Verstappen se tocaram, o britânico saiu da pista, enquanto o atual campeão teve o bico danificado e precisou parar nos boxes para trocá-lo. Em seguida, Lando Norris também acabou tocando roda com roda com Charles Leclerc. O monegasco da Ferrari rodou e caiu para o fundo do pelotão. Norris e Verstappen foram punidos em cinco segundos cada por causarem os acidentes.

Na ponta, Russell passou a ter Sergio Pérez como seu principal concorrente pela vitória em Interlagos. O britânico da Mercedes largou pela segunda vez na primeira posição. O mexicano da Red Bull não conseguia encurtar a distância para o piloto da escuderia alemã, que matinha a vantagem entre dois e três segundos.

Russell foi para os boxes, Hamilton assumiu a liderança e mesmo com pneus macios, o heptacampeão fez seus pneus resistirem por 30 voltas. Ele trocou para o composto médio e voltou para a pista na quarta colocação, empurrando o companheiro de Mercedes de volta para a ponta.

Mas Hamilton ainda tinha o que mostrar na briga pelo pódio. O britânico retornou para a pista com ótimo desempenho, tirando praticamente um segundo por volta de Carlos Sainz Jr, da Ferrari, que ocupava a terceira posição. Para se prevenir, o espanhol antecipou sua parada nos boxes para retomar desempenho.

Domínio consolidado

Enquanto isso, o bicampeão Max Verstappen seguia com dificuldades para escalar o pelotão, perdendo muito tempo com carros do fim do grid. A briga do holandês se resumia a marcar pontos em Interlagos. O panorama indicava uma disputa de Hamilton com Pérez pelo segundo lugar, dada a vantagem ampla de mais de sete segundos de Russell na liderança. Na abertura da 45ª volta, Hamilton ultrapassou Sergio Pérez na reta dos boxes e assumiu a segunda posição.

Na volta 53, Norris teve problemas, sua McLaren simplesmente parou. Ele precisou abandonar, causando a entrada do safety car. Norris sofreu com uma intoxicação alimentar na quinta-feira e não conseguiu seu melhor desempenho. Foi um péssimo fim de semana para a escuderia britânica, que viu seus dois carros abandonarem, fato que não acontecia desde a Bélgica, em 2019.

Com a entrada do safety car, Hamilton pôde se aproximar de Russell, que, preocupado, foi informado pela Mercedes que teria liberdade na disputa por posição com o heptacampeão mundial. A demora para o safety car se recolher causou insatisfação em alguns pilotos. A pista só foi liberada na 59ª volta.

Com as duas Mercedes na ponta, a briga se intensificou pelo pódio entre Pérez e as Ferraris de Carlos Sainz e Charles Leclerc. O mexicano não segurou o espanhol nem o monegasco. Fernando Alonso foi no embalo e também deixou o piloto da Red Bull para trás. O espanhol da Alpine ganhou incríveis 12 posições ao longo da corrida. Verstappen também ganhou a posição de Pérez.

Russell não foi pressionado por Hamilton e conduziu sua Mercedes de ponta a ponta rumo à sua primeira vitória na carreira na Fórmula 1 e voltando a colocar a bandeira da Grã-Bretanha nos dois lugares mais altos do pódio.

Recorde

O GP de São Paulo de F-1 bateu novo recorde de público. Na soma dos três dias de atividades no Autódromo de Interlagos, 235.617 pessoas estiveram presentes para acompanhar a categoria máxima do automobilismo mundial, representando o novo recorde. A marca anterior foi obtida na temporada passada, quando 181.711 torcedores acompanharam o fim de semana de GP.

Confira a classificação final do GP de São Paulo de F-1:

  • 1º – George Russell (ING/Mercedes), em 1h38min34s044
  • 2º – Lewis Hamilton (ING/Mercedes), a 1s529
  • 3º – Carlos Sainz Jr. (ESP/Ferrari), a 4s051
  • 4º – Charles Leclerc (MON/Ferrari), a 8s441
  • 5º – Fernando Alonso (ESP/Alpine), a 9s561
  • 6º – Max Verstappen (HOL/Red Bull), a 10s056
  • 7º – Sergio Pérez (MEX/Red Bull), a 14s080
  • 8º – Esteban Ocon (FRA/Alpine), a 18s690
  • 9º – Valtteri Bottas (FIN/Alfa Romeo), a 22s552
  • 10º – Lance Stroll (CAN/Aston Martin), a 23s552
  • 11º – Sebastian Vettel (ALE/Aston Martin), a 26s183
  • 12º – Pierre Gasly (FRA/AlphaTauri), a 26s867
  • 13º – Guanyu Zhou (CHN/Alfa Romeo), a 29s325
  • 14º – Mick Schumacher (ALE/Haas), a 29s899
  • 15º – Alexander Albon (Williams), a 36s016
  • 16º – Nicholas Latifi (CAN/Williams), a 37s038
  • 17º – Yuki Tsunoda (JAP/AlphaTauri), a uma volta

Não completaram a prova:

  • Kevin Magnussen (DIN/Haas)
  • Daniel Ricciardo (AUS/McLaren)
  • Lando Norris (ING/McLaren)