Por LEONARDO VOLPATO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Há dez anos, no dia 22 de outubro de 2009, a então estudante de turismo Geisy Arruda, à época com 20 anos, causava um alvoroço na sede da Universidade Bandeirante de São Paulo, em São Bernardo do Campo (ABC paulista). Na ocasião, ela foi xingada e humilhada por muitos alunos por estar com um vestido rosa e curto.

Foto: Reprodução

 

Hoje, aos 30 anos, Geisy Arruda lembra com tristeza daquele que para ela foi o “pior dia da vida”. Até agora, ela diz, é difícil relembrar e entender os motivos daquele desconforto geral na faculdade. “Não são lembranças boas, foi um dia triste, o pior. Recentemente, eu tive de assistir a vídeos daquele momento e foi complicado reviver tudo isso. Mas eu lembro como se fosse ontem do meu trajeto e de cada voz me xingando. As vozes ecoavam dizendo ‘puta'”, afirma ela.

Por mais que hoje esteja bem, Arruda conta que ainda há uma chateação com o episódio e revela que no início achava que ela era a culpada, algo que rapidamente diz ter resolvido em sua mente. “Nas primeiras semanas me cobrava: ‘e se eu tivesse ido com uma roupa comportada ou com uma calcinha não tão pequena?’. Eu me torturava como se eu fosse a vilã. Mas descobri que não teria feito nada diferente, eram roupas das quais eu gostava. Algumas pessoas tentam justificar o ato inadmissível dos alunos.”

De acordo com a modelo, até hoje ninguém envolvido no episódio a procurou para fazer as pazes ou para tentar uma aproximação amistosa. “Graças a Deus nunca encontrei ninguém e nem quero. Seria desagradável para todos. Evitei isso a minha vida toda. Nunca recebi um pedido de desculpas, nunca ninguém teve essa hombridade”, afirma.

Geisy Arruda tinha 20 anos e morava em Diadema (ABC paulista). Quem pagava com esforço a mensalidade da universidade era o pai dela. A jovem nasceu na periferia do ABC e na época trabalhava em um mercado com salário de R$ 400. A meta dela era trabalhar com turismo ou hotelaria. Segundo Arruda, nunca passou pela cabeça alçar à fama.

Bonança após a tempestade

Após o episódio, Geisy Arruda ficou na mira dos holofotes e sua vida passou a ter um novo caminho. Ela passou a frequentar programas de televisão e chegou a ser repórter de alguns deles, modelo, atriz e fez participações em quadros de humor.

Também fez ensaios sexy, posou nua e participou do reality A Fazenda (Record), em 2010. Na opinião de Geisy Arruda, a fama veio como uma espécie de alento, a bonança após a tempestade. “O sucesso eu encaro como uma recompensa divina, uma forma de amenizar as agressões que sofri. Nem toda dor e humilhação são para sempre. Mas imbecilidade e lixação pública não desejo à minha pior inimiga.”

Arruda também revela que tinha complexo com relação à aparência. Desde os dez anos que ela pintava os cabelos em casa, fazia as unhas e até se depilava com lâmina. Para ela, era a tendência a ganhar peso que mais a machucava. Justamente por isso que com a fama veio o dinheiro para investir em sua beleza. “Agora depois que estou numa condição melhor, procurei bons cirurgiões plásticos e aproveitei para me cuidar. Fiz lipoaspiração, coloquei silicone, ajeitei o nariz, investi muito em mim”, revela.

Apesar de tudo o que aconteceu, Arruda guarda até hoje o vestido rosa que causou tanto alvoroço há dez anos. Mas engana-se quem pensa que há carinho envolvido. “É um tecido apenas, não um troféu nem amuleto. Não o vejo como talismã e jamais colocaria num quadro como se fosse sagrado. Guardo porque é simbólico, mas não uso. Me remete a tudo de ruim.”

Dez anos depois, Geisy Arruda já passou por muita coisa, mas ela quer mesmo é expandir seu canal, Ponto G, no YouTube no qual fala sobre sexualidade. Ela recebe celebridades e as entrevista, algumas em uma banheira.

“Sempre gostei e quis trabalhar com humor na TV, mas não há muitas oportunidades. Quando a mulher tem curvas, ninguém a leva a sério. Tanto que nossas comediantes mulheres não são ‘sex symbol’. Na internet, eu posso fazer minha própria programação.”

Outra vontade da modelo é a de ser mãe. Ela chegou a sofrer um aborto espontâneo em 2014, quando estava no terceiro mês de gestação. “Quero ter filhos, casar, a maternidade seria uma honra, uma dádiva. Quem sabe um dia, quando eu encontrar uma pessoa boa, porque agora estou solteira.”

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Dez anos após caso em faculdade, Geisy Arruda diz se lembrar de ‘gritos de puta’

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