A jovem Naiara Paula da Conceição Silva, assassinada no último domingo (9), no apartamento onde morava no bairro Santa Cândida, em Curitiba, era “divertida”, “bem humorada” e “muito doce”.
Foto: Reprodução Redes Sociais.
As palavras são da mãe dela Elisabete Pereira. Muito abalada, ela chegou ao cemitério onde o corpo da filha é velado, na manhã desta terça-feira (11), amparada pelo advogado da família.
“O maior legado dela foi a pureza e, talvez isso, tenha causado essa tragédia, por ter confiado em alguém que era um psicopata, uma pessoa extremamente perigosa, que premeditou e fez uso desse sentimento que ela tinha pra fazer essa coisa horrenda, arrancar ela de mim, tudo que ela tinha conversado comigo um dia antes. É muito importante que o nome dela não seja esquecido e que possa ser feita a justiça. Que ele seja punido por essa monstruosidade que ele cometeu”,
diz a mãe.
Dia do ponto final no relacionamento
O ex-companheiro Luiz Fernando Leite é investigado pela autoria do crime. Naiara se relacionava com Luiz Fernando havia pouco mais de um ano e morava com ele desde outubro de 2022.
O término teria ocorrido há cerca de três semanas, depois de um episódio de ciúmes. Segundo Rafaela Nunes Pereira, a irmã saiu com uma amiga e ele não gostou. “Ele era muito ciumento. Ele pegou no pulso dela e foi ali que ela terminou o relacionamento”, diz.
A jovem nunca relatou qualquer tipo de violência para a família, mas os parentes notavam atitudes suspeitas, como conta Rafaela.
Foto: Eliandro Santana.
“Quando eu morava com minha irmã em Curitiba, comecei a perceber algumas coisas. Minha irmã nunca relatou que ele agrediu ela, mas teve duas atitudes que eu estava presente que vi que gritou com ela. Comuniquei minha mãe e os amigos. E ele era muito possessivo. Ele ficava em ligação com ela o tempo todo. Ela dormia em ligação de chamada, porque ele tinha que escutar a respiração dela.”
Por conta do relacionamento, Naiara estaria mais afastada de amigos e familiares. “Ele queria minha irmã só pra ele. E quando ela conseguiu se libertar disso, ele foi lá e fez isso com ela”, lamenta Rafaela.
Última conversa com a família
Rafaela conta que conversou com Naiara pela última vez no sábado à noite, um pouco antes de retornar ao apartamento no Santa Cândida, horas antes de ser morta. “Ela estava aliviada”, recorda a irmã.
“Desde que saí, em outubro, ela não tava feliz. Estava se afundando cada vez mais. Quando conseguiu se libertar, estava muito feliz. Conservou comigo, com o pai, com a mãe, com amigos. E ela falou: ‘Tô muito feliz’. Ela falou: ‘Quero viver esse novo ciclo da minha vida’. Ela tinha planejado morar sozinha no apartamento, voltar a estudar, pagar as contas que tinha. Tava cheia de sonho, com vontade de viver”.
Em um último áudio enviado ao pai, às 21h57 de sábado (8), Naiara fez uma declaração ao pai:
“Pai, te amo, fique bem. Não esquece que te amo muito, muito, muito. Bênção, que o senhor fique bem. E não esquece que te amo muito.”
Ouça o áudio:
Em Curitiba há três anos
Naiara estava com 30 anos e era paulista. Em Curitiba, havia três anos, ela trabalhava no Senac. A jovem fazia curso de design e vendas. Antes, morou em Matinhos, no litoral do estado, onde trabalhava.
Há cerca de um ano e meio, Naiara conheceu Luiz Fernando em um evento de foodtrucks, no qual trabalhava na divulgação. O ex-companheiro era o organizador. Alguns meses depois de iniciarem um namoro, foram morar juntos, em outubro de 2022.
Prisão preventiva
Luiz Fernando Leite segue internado em um hospital de Curitiba.
“A Delegacia da Mulher informou no processo que ele havia sido transferido para a Delegacia da Mulher, e acabei noticiando que houve essa transferência a toda a imprensa. Mas ele continua no hospital, sob custódia da Delegacia da Mulher. De lá, hoje ou mais tardar amanhã, vai para a Delegacia da Mulher para ser ouvido”, explica o advogado da família, Jackson Bahls.
O ex teve prisão em flagrante revertida em preventiva nesta segunda-feira (10).
Conforme o advogado, o próximo passo é ouvir pessoas próximas a Naiara.
“Testemunhas que conversaram com ela períodos antes, para desfazer essa mentira que esse canalha contou, de que ela tinha se matado. Isso não condiz com a realidade. Ela era uma mulher muito forte e, certamente, ela brigou muito pela vida.”
A delegada responsável pelo caso tem até 10 dias desde seu início para concluir o inquérito. O relatório será entregue ao Ministério Público. “Que o MP seja duro, seja forte e não abrace esse assassino, esse covarde. Tem uma denúncia pesada, com quatro qualificadoras, além das causas de aumento, o meio cruel utilizado pra tirar a vida dela. Esperamos que seja feita justiça lá no plenário do Tribunal do Júri”, diz Bahls.
