Passar pelo tratamento de uma doença rara ou um câncer é um desafio difícil e cheio de altos e baixos. Quando o paciente é criança, a situação é ainda mais delicada, principalmente para que ele não se esqueça de que é criança. Em Curitiba, o Hospital Pequeno Príncipe (HPP) aposta no atendimento humanizado para driblar o sofrimento vivido pelos pacientes e familiares durante o internamento.
Maior hospital pediátrico do Brasil, o Pequeno Príncipe atende pacientes de todo o país. São famílias que buscaram todas as formas de tratamento em suas cidades e, depois de muita luta, encontraram em Curitiba a chance de cura.
Esse é o caso da Sylvia Maelly Takhashi Primo, de 10 anos. A menina veio de Cuiabá, no Mato Grosso, junto com a mãe, Elinete Prim, para tratar uma leucemia.
“Nós iniciamos o tratamento dela lá em Cuiabá, fizemos um ano de quimioterapia lá e aí precisou fazer o transplante, então viemos para cá porque lá não faz. A irmã dela foi a doadora”, contou a mãe.
Sylvia passou pelo transplante de medula óssea sem intercorrências. Para comemorar, ela colocou toda a equipe médica e de enfermagem para dançar. O vídeo viralizou nas redes sociais.
“Ela está bem animada, gosta muito de dançar, de fazer atividade física e isso tem ajudado bastante na recuperação. Ela vivia dançando lá no hospital, aí uma doutora pegou ela no flagra dançando. Falaram que queriam gravar um vídeo dela dançando, ela topou e disse ‘só se todo mundo dançar comigo’. Então, sobrou pros médicos e enfermeiros”, disse Elinete.
A médica Cilmara Kuwahara, responsável pelo Serviço de Transplante de Medula Óssea do HPP, afirmou que o vídeo gravado pela Sylvia é só uma das formas que a equipe encontra para aliviar a rotina no internamento.
“Quando a gente propõe uma atividade diferente, uma música, uma dança, isso estimula eles a lembrarem que também são crianças, que estão sendo cuidados, estão sendo vistos, e isso ajuda muito na recuperação”, explicou à Banda B.
A família de Sylvia ainda terá que permanecer em Curitiba por três meses, antes de ir para casa. A mãe da menina garante que, quando voltarem para Cuiabá, na mala também será levada a gratidão pela equipe do HPP.
“Eles deixam tudo mais leve pra gente desde o primeiro dia. Nós somos muito bem acolhidos, muito bem atendidos, o tempo inteiro eles estão muito preocupados comigo e com ela. Eu não tenho nem palavras para descrever o que eles fazem. Eles são maravilhosos e essenciais, desde a limpeza aos médicos. São pessoas que levaremos para o resto da vida”, destacou.
500 transplantes
Em agosto, o Serviço de Transplante de Medula Óssea (TMO) do Pequeno Príncipe chegou a marca de 500 procedimentos realizados. O transplante de medula é indicado para o tratamento de leucemias, linfomas e tumores sólidos. Além disso, algumas doenças raras e não malignas também podem ser curadas.
O Everthon Santana dos Santos, de sete anos, foi o paciente número 500. Natural de Ubaíra, cidade a 260 km de Salvador na Bahia, o menino veio para Curitiba com a mãe Rozangela Borges, em junho.
Everthon foi diagnosticado com anemia falciforme aos 27 dias de vida, durante o teste do pezinho.
“Com cinco meses, ele teve a primeira crise bem forte. Desde cedo começou a fazer transfusão sanguínea mensal até um ano e meio de idade. Nessa idade, precisou tirar o baço porque estava tendo muita intercorrência. Depois dos três anos, voltou a fazer transfusão mensal, até chegarmos aqui. Ele corria o risco de ter derrame cerebral”, detalhou Rozangela.
A cirurgia do menino foi um sucesso. Agora, ele passa por uma fase de acompanhamento. A médica Cilmara Kuwahara cita que cada passo é comemorado.
“O Everton não tem mais sintomas e nem sinais da doença no corpo dele. A gente vai acompanhar isso por um longo período, porque existem riscos de infecções e rejeição do transplante. Mas ele está em uma recuperação excelente”, disse.
Emocionada, a mãe do Everthon nem acreditou quando recebeu a notícia de que o filho estava curado.
“Graças a Deus, depois do transplante, tem dado tudo certo. Está evoluindo bem e a cada dia melhor. Hoje meu filho está curado e terá uma vida normal. Você olhar pro seu filho, que você luta com ele desde os 27 dias de vida, e saber que ele não tem mais a doença, é emocionante demais. Só Deus para saber o que se passa no coração de uma mãe”, celebrou aos prantos.
Salto de esperança
A médica Cilmara Kuwahara relembra que foi um trabalho intenso para que o HPP alcançasse o respeito que tem hoje. O serviço de TMO começou com três leitos, mas a projeção que ganhou no país, com tratamento altamente especializado, fez com que esse número saltasse para 10.
“Pra gente representa uma grande vitória, uma grande alegria, é fruto de muita luta. O serviço de oncologia do Hospital Pequeno Príncipe é um serviço bastante antigo, de referência. Até 2011, a gente não tinha um serviço de transplante estabelecido, ou seja, os nossos pacientes, quando precisaram, eram encaminhados para outros lugares. Então, a partir dessa necessidade a gente lutou muito para construir esse serviço”, lembrou a especialista.
Cerca de 30% dos procedimentos realizados pelo Pequeno Príncipe são em bebês, crianças e adolescentes com doenças raras. São cerca de 60 transplantes por ano. O hospital é responsável por 12% de todos os TMOs pediátricos feitos no Brasil.
“A gente transplanta aqui doenças malígnas, que são principalmente as leucemias e alguns tumores, e também transplantamos doenças não malignas, como erros do metabolismo, erros da imunidade, parada do funcionamento da medula óssea, algumas anemias congênitas, então são diferentes perfis de doenças. Para a maioria delas, o transplante é a única perspectiva de cura”, afirmou Cilmara.