Condensar mais de 40 anos de história, em duas horas  e meia de show, é uma tarefa das mais difíceis para qualquer artista. Fazer isso em uma turnê especial, reunindo os atuais e os ex-integrantes, mantendo o mesmo pique de antes, também pode ser complexo e quase impossível. Mas não para os Titãs

Na mitologia grega, a palavra Titãs significa gigantes, representando os deuses que desejavam atingir o céu e destronar Júpiter. O que se viu na noite deste sábado (10) na Pedreira Paulo Leminski foi, simplesmente, esse objetivo sendo alcançado. Em Curitiba, expectativa era de reunir 15 mil pessoas, mas a impressão é de que havia bem mais gente, lotando a casa de Paulo Leminski. Veja fotos e vídeos abaixo.

Foto: Lucas Sarzi/Banda B.

Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, Nando Reis, Tony Bellotto, Branco Mello, Sérgio Britto e Charles Gavin, como bons gigantes, representaram o que de melhor a música brasileira produziu, nas últimas quatro décadas, em um espetáculo histórico e que celebrou, à altura, toda a trajetória do grupo.

Em uma noite cujo tempo colaborou, a banda perpassou por diversas fases da carreira, revisitando desde o new wave do começo, passando pela clássica fase punk do grupo, e culminando com a gloriosa época marcada por canções acústicas e baladas existencialistas.

Lembrando que o setlist do show não seguiu uma linha narrativa, mas passeou pelos diversos períodos das composições dos Titãs, sem perder a unidade e a relevância das músicas. Canções que foram compostas há muito tempo, mas que continuam bem atuais, sem perder em nada o contexto que vivemos.

Veja o setlist do show de encontro do Titãs em Curitiba:

  • Diversão
  • Lugar nenhum
  • Desordem
  • Tô cansado
  • Igreja
  • Homem primata
  • Estado violência
  • O pulso
  • Comida
  • Jesus não tem dentes no país dos banguelas / Nome aos bois
  • Eu não sei fazer música
  • Cabeça dinossauro
  • Epitáfio (bloco acústico)
  • Os cegos do castelo (bloco acústico)
  • Pra dizer adeus (bloco acústico)
  • Toda cor (bloco acústico)
  • Não vou me adaptar (bloco acústico)
  • Família
  • Go Back
  • É preciso saber viver
  • 32 dentes
  • Televisão
  • Porrada
  • Polícia
  • AA UU
  • Bichos escrotos
  • Miséria (bis)
  • Marvin (bis)
  • Sonífera ilha (bis)

Entrosamento e protesto

Impossível não citar o entrosamento perfeito de Nando Reis com os antigos colegas, após sua conturbada saída da banda. O músico despontou tão animado quanto nos shows da carreira solo, demonstrando o carisma que ele possui junto ao público. 

Também não foi deixado de lado o já conhecido lado sarcástico e debochado de Nando, que não se importou com as vaias de pouquíssimas pessoas presentes, e deixou clara a “felicidade do Brasil ter recuperado a democracia, após alguns anos obscuros”.

Nando Reis fez “L” de Lula em vários momentos do show, recebendo aplausos e também algumas vaias. Foto: Lucas Sarzi/Banda B.

Logo no começo do show, o artista disse que as músicas diziam respeito não apenas à história da banda, mas também à história do país. 

“O país pirou e tá na hora de a gente botar o pé de novo e seguir. A gente sabe disso”.

disse Nando Reis, se manifestando sobre a política e situação atual do país

Os Titãs sempre foram conhecidos por falarem o que devia ser dito nas composições, e quem foi ao show esperando que não houvesse um mínimo ato político, foi ao show errado. Inclusive porque isso faz parte da essência do rock: cutucar feridas.

Alice Fromer cantou com a banda, representando o pai, Marcelo Fromer. Foto: Lucas Sarzi/Banda B.

Carisma e respeito

Falando em carisma, esse foi compartilhado por todos, que brilharam individualmente ao longo do show. Mas o destaque podemos atribuir a Branco Mello. 

Após vivenciar um tumor na faringe, Branco agora enfrenta a nova condição de sua voz, com muita coragem e propriedade, fazendo um excelente uso vocal, que não ficou devendo nada à sua performance com os Titãs em anos anteriores.

Expectativa da produção era de 15 mil pessoas, mas a percepção é de que havia muito mais gente. Foto: Lucas Sarzi/Banda B.

Por falar em respeito, embora a formação original esteja afastada duas décadas, o que pareceu foi que o reencontro veio no momento certo, unindo os sete integrantes com a leveza necessária para encarar uma turnê desse porte.

O laço que os oito Titãs tinham ficou evidente com a homenagem feita ao guitarrista Marcelo Fromer, que morreu em 2001, vítima de um atropelamento. Ao palco, foi chamada a filha do músico, Alice Fromer, que cantou duas músicas, entre elas Toda Cor, composta pelo pai.

Veja alguns vídeos do show Titãs Encontro em Curitiba: