Foram oito meses de uma carreira interrompida precocemente. No dia 2 de março de 1996, um acidente aéreo pôs fim à vida dos cinco integrantes do Mamonas Assassinas, que num domingo de manhã voltavam para São Paulo depois de um show em Brasília.

Com idades entre 22 e 28 anos e no auge do sucesso, Alecsander Alves (Dinho), Sérgio Reis de Oliveira e o irmão, Samuel Reis de Oliveira, além de Bento Hinoto e Júlio César Barbosa morreram de forma trágica na Serra da Cantareira, comovendo o país. Um dos maiores fenômenos musicais do Brasil nos anos 1990, o grupo se notabilizou e fez sucesso em sua carreira meteórica pelo rock cômico e apresentações com humor escrachado.

É este o Mamonas -colorido, feliz e engraçado- que o filme “Mamonas: O Impossível Não Existe” (nome provisório) quer retratar. A proposta de um filme 100% “alto astral” foi um dos motivos que levaram a equipe técnica a optar por não abordar a tragédia na Serra da Cantareira.

“É uma escolha nossa. Não vamos focar no acidente. Queremos mostrar como eles eram animados e para cima”, diz Walkiria Barbosa, da produtora Total Filmes, no último sábado (11) dia da gravação de cenas de um episódio de importância fundamental na breve história da banda: o show no estádio Thomeuzão, em Guarulhos, cidade natal do quinteto.

Robson Lima (Júlio), Adriano Tunes (Samuel), Ruy Brissac (Dinho), Beto Hinoto (Bento) e Rhener Freitas (Sérgio), que interpretam os integrantes do Mamonas Assassinas em filme – Foto: Divulgação

O lugar marcou a “volta por cima” dos músicos, já que, quando ainda não eram conhecidos, Dinho e companhia não conseguiram autorização para se apresentar por lá. Dois meses antes do acidente e já pop stars no Brasil, eles voltaram, viram e venceram: em janeiro de 1996, lotaram as arquibancadas e o espaço ao redor, num show considerado histórico por fãs e pelos próprios artistas.

A reportagem acompanhou as gravações da recriação deste dia, em cenas rodadas no estacionamento do Teatro Adamastor, em Guarulhos. A filmagem mexeu com a rotina -e a emoção- de moradores da cidade. Estacionada na porta, uma Brasília amarela, como a da música que os levou ao topo das paradas, e um dos símbolos dos Mamonas, dava a pista de que algo relacionado ao grupo acontecia ali.

“Vim trazer o meu filho para a aula de teatro e, quando vi a Brasília na entrada, não acreditei. Eu amo eles, estou até arrepiada”, disse uma moradora da cidade que não quis dar seu nome, mostrando os pelinhos do braço, realmente arrepiados. Ela diz se lembrar “como se fosse hoje” do dia em que soube do acidente fatal. “Eu estava no médico e chorei muito, demais. Foi impactante, vai ficar para sempre na minha vida”.

Não demorou para ela se juntar às outras pessoas em frente ao palco, numa tarde chuvosa e cinza, que nada tinha a ver com a energia calorosa da banda. Antigos fãs se misturaram aos figurantes, numa verdadeira catarse coletiva, cantando e vibrando com a fiel recriação dos Mamonas, que incluíam figurinos originais e parentes dos músicos em cena.

As famílias emprestaram algumas roupas dos integrantes para a produção, armazenados em uma sala. “Queríamos usar coisas deles, representar isso nos figurinos”, contou Walkiria Barbosa, com uma jaqueta em couro marrom nas mãos, parte do acervo original do Mamonas.

Sobrinho do guitarrista Bento, Beto Hinoto interpreta o tio na produção e, assim como ele, tem como característica física marcante as tranças nos cabelos escuros. “Estou emocionado de verdade, nasci dois anos depois que ele morreu e sempre tentava imitá-lo em casa a partir do que vi em vídeo”, disse.

O clímax da gravação foi a encenação de Ruy Brissac, ator que dá vida a Dinho. Com a fantasia de coelho que o vocalista costumava usar em trechos dos shows, ele demonstrou desenvoltura impressionante no palco, e o comentário geral entre o público que acompanhou a recriação do show era que ele fez uma composição perfeita. Parecia mesmo que era o Dinho quem estava ali, e algumas pessoas foram às lágrimas com sua “presença”.

O roteiro do longa é de autoria é de Carlos Lombardi, escritor de novelas como “Quatro por Quatro” (1994) e “Uga Uga” (2000), e a direção, de Edson Spinello.