Longe do clichê barato, mas se a vida imita a arte e vice e versa, Marquinhos Diet faz referência autobiográfica e celebra em Da Lama ao Sucesso mais de 30 anos de trajetória em álbum emblemático com produção musical de Luciano Galbiati, colaboração do poeta mineiro, Laércio N. Bacelar e músicas escolhidas a dedo, na mesa do bar, com o companheiro de décadas, José Roberto Faccio. Marquinhos Diet, está mais autêntico do que nunca.
Outubro ou Nada!, foi com esse lema, há 27 anos que o Circo Voador brindava aos 12 anos de resistência artística na cidade do Rio de Janeiro. Naquele outono noventista, Marquinhos Diet, Ney Matogrosso, Lobão, Dona Ivone Lara, Blitz, Raimundos, Zeca Pagodinho, Wilson Moreira, Little Quail & The Mad Birds, Monarco, Claudio Nucci, entre outros standards da música brindaram no famigerado palco carioca ao longo do mês.
Contudo, a década que vislumbrava ainda os estrondosos festivais da música, celebrava aqueloutro outubro o 5º Fest Valda Aberto de Música. O concurso de música jovem, recebia eliminatórias em São Paulo – realizado na época no antigo Palace, onde funcionou até abril deste ano o UnimedHall – e Rio de Janeiro, no Circo Voador.
Em Paranavaí, Marquinhos Diet gravou uma fita demo num estúdio pequeno de um amigo. Entre faixas e parcerias, lá estava Efeito Pretérito, que tempo depois, seria o estopim na discografia de Marquinhos.
Na época, Marquinhos Diet assina artisticamente como Marcos Nihaus, e foi assim, com nome e sobrenome que ele conquistou o primeiro lugar no 5º Fest Valda Aberto de Música em São Paulo, garantindo a gravação de um álbum em parceria com a Warner e sua vaga na edição carioca no Circo Voador.
Efeito Pretérito é um marco pulsante na história musical de Marquinhos Diet. Além dos feitos e com o sucesso da canção-deboche, a música ganhou ainda um clipe dirigido pela cineasta Tizuka Yamasaki.
Além do vislumbre em poder entrar em estúdio no RJ e gravar o primeiro álbum, há quase três décadas, Marquinhos Diet foi precursor na cena underground da música brasileira ao trabalhar em um clipe assinado por uma diretora de cinema premiada e ainda, com grande elenco, gravações em estúdio e externas. É claro que o filme estava fadado ao triunfo, e não deu outra.
Quando a MTV Brasil ainda era um canal aberto e a VJ Cuca Lazarotto comandava o Top 20 – programa onde eram apresentados os videoclipes mais pedidos da emissora – lá estava Marquinhos Diet, ao longo de semanas consecutivas com Efeito Pretérito.
Vencedor de festival, clipe de sucesso e o início de um novo capítulo repleto de reviravoltas. O álbum que Marquinhos Diet gravaria, levou dois anos para ser finalizado. Custear toda a banda no Rio de Janeiro passou a ser inviável. E o retorno para Londrina – onde ele morava antes da cidade carioca – foi inevitável.
Vai Dizer Que Não? o primeiro – e raro – álbum solo de Marquinhos Diet ficou pronto apenas três anos após o Festival. Dos louros em meio ao caos, durante a estadia no Rio, entre suas outras composições afamadas, Marquinhos fez uma colaboração com a poeta Matilda Kovac em O Dia Em Que Eu Ficar Milionário, e por lá também compôs a clássica Deu Tempo de Engolir.
Pouco antes da virada do milênio, Marquinhos Diet já estava em terras vermelhas, quando reuniu o trio formado por Zé Roberto Fascio (bateria), Fernando Stelzer (contrabaixo) e Alexandre Malagutti (percussão). E assim, em 2000, gravaram ao vivo, no icônico Bar Valentino, o álbum Habitantes do Planeta com Marquinhos Diet e Boca de Caçapa. Com 11 faixas e a participação especial do guitarrista, Bruno Iglesias. Dois anos depois, ao lado do trio, lançaram o segundo álbum: Lagartas.
Da Lama ao Sucesso
Hoje, com mais de 30 anos no blues-rock, Da Lama ao Sucesso não é apenas o novo álbum de inéditas de Marquinhos Diet. O disco é onde ele deliberadamente faz sua carta manifesto e retrata sua trajetória de forma particular, com a produção musical de Luciano Galbati – responsável pela badalada Fabrika Produtora Estúdio.
Entre os destaques do álbum, além da identidade própria de Marquinhos Diet que inflama de forma categórica suas histórias e peripécias, das composições próprias – que foram escolhidas a dedo entre ele e José Roberto Faccio em uma mesa de bar – a faixa O Alpinista, é a única colaboração, com a composição do poeta mineiro Laércio N. Bacelar.
Diferente dos outros projetos, Da Lama ao Sucesso ganha piano e teclados, elevando a sonoridade para outras possibilidades que fluíram sem ofuscar as características de Marquinhos. Os responsáveis pela harmonia são, Marcos Santos, João Sales e Thiago Batata.
Os sopros, também são exaltados de forma contundente em Da Lama ao Sucesso, com Reinaldo Resquetti (trompete e trombone) e Wesley Cesar (sax).
Fã declarado de Raul Seixas desde outros carnavais, Marquinhos Diet traz em Da Lama ao Sucesso, a participação do guitarrista Rick Ferreira – que esteve presente em toda a discografia do maluco beleza e era considerado o fiel escudeiro do baiano.
Da Lama ao Sucesso traz também Reinaldo Papinha (guitarra), Sara Secco Delallo (baixo) José Roberto Faccio (bateria), Luciano Galbiatti (percussão), Marcos Andrei Braga Brum (guitarra) e Fernando Bana (baixo).
Disponível em plataformas de streaming com distribuição pela Tratore, Da Lama ao Sucesso é o álbum onde Marquinhos Diet desamarra os nós entre as décadas e faz quase em forma de capítulos, as passagens sobre a sua história.
O álbum abre com Quase Machuquei Meu Coração, passa por De Louco Eu Tenho um Pouco, chega em Meu Destino Eu Mesmo Traço, vai Atrás da Lata de Baygon, para poder desbravar em Suaves Prestações, colaborar em O Alpinista, estontear em Tropeço, comprovar tudo em Credenciais e afirmar ao que veio: Da Lama ao Sucesso.