“O futuro de um gênero musical é medido pelas bandas novas, e não pelas veteranas. É preciso apostar nelas”. A declaração é de Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, um dos maiores nomes do rock nacional, que completou 40 anos de estrada e comemora o feito com a turnê nacional 4.0 — que já passou por Curitiba, cidade natal do músico.
Do estúdio em casa, em São Paulo, Dinho conversou pela primeira vez, por vídeo, com os quatro integrantes da banda curitibana Lenhadores da Antártida, que vai abrir o show especial do Capital Inicial no Rio de Janeiro, em 11 de novembro, no Qualistage, com quase 9 mil espectadores. Veja o vídeo abaixo.
“Muito legal conhecer a banda, saber que é da cidade onde nasci. Vou assistir ao show e vamos comemorar tudo isso ao vivo depois”
disse Dinho.
As histórias dos curitibanos Dinho Ouro Preto e da Lenhadores, com Ricardo Passos (voz principal, violão, guitarra, gaita e piano), Thomas Kossar (guitarra solo, lap steel e bandolim), Renato Rigon (voz, baixo acústico e baixo elétrico) e Gustavo Anderson (bateria), se cruzaram após o grupo vencer o concurso nacional para bandas independentes promovido pelo Capital Inicial.
Outras duas também ganharam, ambas de São Paulo: “Venere Vai Venus” , com participação no show de Recife, no início de outubro; e a “O que Sobrou do Caos”, que sobe ao palco na apresentação de Belo Horizonte, em 18 de novembro, na ExpoMinas.
“Fiquei impressionado com a qualidade musical da Lenhadores e das outras bandas”
disse Dinho.
Mais de dois mil grupos de todas as regiões do Brasil participaram do Concurso de Bandas 4.0 — aberto apenas para as independentes, sem vínculos com gravadoras, selos ou distribuidoras, com trabalho autoral no repertório e experiência tocando ao vivo.
Após triagem, júris técnico e artístico, seis foram escolhidas pelo Capital Inicial para a etapa final, com votação popular pelo site oficial. Mais de 120 mil votos definiram as três vencedoras, recebidas em cidades diferentes pelos integrantes do Capital Inicial.
“Não tínhamos ideia que viria tanto material, e de qualidade, de vertentes variadas. Foi um trabalho árduo escolher as que seguiriam para o júri popular — e até cruel, eu diria, porque sabemos como é difícil para bandas novas, autorais, ‘quebrarem a arrebentação’ e apresentarem o seu trabalho para plateias maiores; e aí, deixar de fora tantos talentos foi muito dolorido”
desabafou o vocalista do Capital Inicial.
Abertura
Para o líder da Lenhadores da Antártida, vencer um concurso de tal porte abre novas perspectivas. Com influências do rock tradicional, indie rock e folk, a banda tem 12 anos de estrada, três discos, e conseguiu espaço na noite curitibana a partir de releituras de outros grupos famosos.
Aos poucos, foi inserindo o trabalho autoral no setlist e conquistando público também pelo trabalho próprio, incluindo plateia em Santa Catarina, estado vizinho ao Paraná. O grupo já tocou em São Paulo — no Rio de Janeiro, a experiência será inédita.
“Queremos correr o país com o nosso som e a visibilidade que o concurso nos dá agora tem sido fundamental”
disse Passos.
Dinho relembrou o início do Capital. Segundo ele, a banda não teve entrada em concursos da época, muito menos tiveram oportunidades “fáceis”, enfrentando muitos “nãos”.
“Nunca sequer fomos selecionados para concursos, que existiam à época que começamos, há quatro décadas. Com fita embaixo do braço, ouvimos muitos ‘nãos’ e ‘que éramos ruins’, assim como nossos amigos da Legião Urbana, por exemplo, e tantos outros. Foi difícil conseguir o nosso lugar. A ideia do concurso do Capital é justamente abrir espaço para as bandas independentes, especialmente em um momento em que há milhares de projetos musicais sendo lançados diariamente e sendo propagados massivamente pela internet — ela facilita por um lado, mas dificulta por outro”.
Lançamento de música
Diante da repercussão da vitória no concurso nacional, a Lenhadores da Antártida adiantou o lançamento da nova música de trabalho. “Oh, mãe!” foi composta por Ricardo Passos para a mãe dele, que faleceu há poucos meses, vítima de câncer.
“Foi meu último ato de amor para ela. Ainda no hospital, pouco antes de partir, consegui lhe mostrar”, contou a Dinho, que ficou tocado ao ser apresentado à canção. “Que lindo, que texto lindo, que voz linda e abençoada”, elogiou. A música faz parte do novo disco da Lenhadores, que será divulgado aos poucos ao público, com nova canção em breve.
Formados em Filosofia, Letras, Rádio e TV e Antropologia, os integrantes da Lenhadores, que têm entre 30 e 40 anos, possuem o sonho de viver só de música por toda a vida. Apenas um dos integrantes, ainda, mantém, em paralelo, emprego fora do segmento.
“E parece que o universo tem conspirado para tudo isso”
conclui Dinho Ouro Preto.
Veja o vídeo de Dinho com a banda curitibana: