Se a vida é arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida – como bem imortalizou Vinicius de Moraes (1913-1980) – a frase ganha razão efêmera na trajetória das artistas multifacetadas, Fernanda Polse e Carolinaa Sanches. Há poucas semanas, elas divulgaram o single de Concha (2020) parceria que retrata a fusão de quase 15 anos de amizade.
“A afirmação em sermos compositoras e cantoras demorou mais do que as outras práticas das nossas vidas. Mas, ainda assim, nossas primeiras trocas artísticas aconteceram via e-mail, quando mal nos conhecíamos“, revela Carolinaa sobre o estopim da relação.
Elas se conheceram em Londrina, no norte paranaense, durante a o curso de jornalismo. Logo depois, Fernanda foi morar em Minas Gerais, porém, os laços empíricos jamais foram rompidos. Tanto é, que, mesmo em regiões distintas, ambas começaram a estudar artes plásticas e logo depois, a música se torna ofício em comum entre as londrinenses.
“O processo começou a distância, a partir de um hábito antigo que a gente tem de troca de poesias. Quando nos encontramos pessoalmente, a gente fez a melodia em estúdio e gravou as vozes, tudo em um dia“, rememora Fernanda sobre o single.
Embora, Concha seja o primeiro trabalho assinado pelas amigas, em 2016, Fernanda gravou em seu álbum de estreia, Bicho Branco Polse – com produção musical de Leonardo Marques e lançado pelo selo belga-mineiro, La Femme Qui Roule – a faixa, Lichia composição feita em parceria com Carolinaa.
Antes de consolidarem em estúdio a primeira parceria, Fernanda integrou a banda Polka Dots, e ao lado de Carolinaa, a estreia no palco, aconteceu em 2010, com o projeto A Beleza de Gertrudes – nome inspirado em um conto de Carlos Drummond de Andrade, e no repertório mesclavam versos de Fernando Pessoa e Hilda Hilst.
“Para além desta conversa musical, eu percebo que dialogamos em outras áreas artísticas e políticas, justamente por trazermos nosso processo de afirmação e reconhecimento existencial”, reconhece Carolinaa.
Desde 2013, Carolinaa integra o grupo, Pisada da Jurema – projeto de investigação sobre a cultura popular – e também, o vocal da banda Caburé Canela. Ela retrata a sua atual fase na música, como um grande campo magnético, onde as pessoas que estavam faltando, apareceram. E revela com exclusividade que logo menos, vai lançar o seu primeiro trabalho solo, intitulado, Curva de Rio.
O resultado de Concha evoca a ancestralidade pélvica para um portal infinito. Onde as artistas e ativistas, Carolinaa Sanches e Fernanda Polse, se deparam em um pavilhão de espelhos com suas novas fases, onde mesmo à distância, refletem a consonância de suas pluralidades artísticas.
“A gente precisa compostar o mundo para nascer outras coisas. A gente fala disso na música. Ouvir a nossa própria alma, o nosso espaço sagrado para se conectar com outras pessoas”, celebra Fernanda Polse.