Ela tem ganhado cada vez mais espaço, mas uma coisa é inegável dizer: Luedji Luna veio para representar um público que, cada vez mais, precisa encontrar-se ali, junto com todo mundo, como deveria ser desde sempre. Além de toda a energia baiana com pegada musical única, a cantora traz também a força da mulher preta. É assim que ela se apresenta nesta sexta-feira (16), pela segunda vez em Curitiba. 

Foto: Divulgação.

Na bagagem, Luedji traz o repertório do novo disco, Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água, que reforçou o título de a cantora ser uma grande referência atual para as mulheres pretas, tanto social quanto culturalmente falando. Talvez abrangendo um pouco além, referência para as mulheres.

À Banda B, a cantora disse que compreende que a música dela dialoga com as mulheres negras, e com as pessoas pretas de modo geral. Mas disse que o trabalho que faz sempre foi sobre ela.

“Eu compreendo desde o primeiro disco, Um Corpo no Mundo, que foi o disco que me projetou nacionalmente, que era um trabalho que era sobre mim, mas era o meu coletivo, né? Era o meu que era nós, eu estava falando de uma questão identitária no Brasil e enfim. Era um debate coletivo, então a minha trajetória ela já nasce dialogando com a comunidade e os meus trabalhos, eles têm muita autonomia, sabe?”. 

Luedji reforça que as músicas que ela faz são primeiro sobre ela, sobre as experiências dela, mas que isso acaba representando as experiências de outras pessoas também.

“Não nasce pra isso, né? Ela nasce por uma questão de uma demanda mesmo pessoal, uma expressão mesmo da minha individualidade, da minha subjetividade e essa individualidade subjetividade dialoga com outras mulheres também outras pessoas pretas também”. 

Foto: Divulgação.

Arte como informação

A arte, para Luedji, é o que deve aparecer em primeiro plano, e é o que insere as pessoas no mundo. Ela conta que nunca buscou ter o controle do que faz, do entendimento que deseja passar ao público, mas deixa claro que sempre buscou fazer algo natural.

“A arte, depois que a gente coloca no mundo, a gente não tem mais controle sobre ela. Eu respeito os artistas que fazem algo mais propositivo, mais panfletário, está OK. Mas no final das contas, depois que está no mundo, não tem controle de quem vai alcançar, do quanto vai alcançar, né? De quem vai acessar, de como vai acessar, o que a gente tem que fazer é simplesmente fazer o nosso ofício, fazer o que o nosso coração manda e o modo como a gente está no mundo”. 

Segundo Luedji, o papel principal do artista é ser um condutor, é também o de conscientizar e informar. Isso ela busca fazer, mas sempre com a preocupação de não ser panfletária.

“Acho que é só agir com honestidade, com escuta, e o resto vai reverberar como tem feito. A arte, a música, ela tem muita autonomia. Eu digo que ela é uma entidade com vida própria, eu só sou um veículo, né? Se eu sou um um veículo mesmo pra ela se expressar”. 

Amor é o canal

Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água, o novo disco da cantora baiana, foi lançado durante o auge da pandemia, e tem o amor e as afeições como alguns dos principais temas. Luedji disse à Banda B que buscou exatamente ser o contrário da intolerância e do preconceito que estávamos vivendo atualmente. 

“Olha, a gente teve o pior momento aí do Brasil, que foi com esse ex-presidente, que parece que as pessoas se sentiram livres para deixar cair as máscaras, expressar seu ódio, expressar seu racismo, expressar seu preconceito. Mas fica aqui o papel do artista, ser o contraponto do que é feio, ser o contraponto do ódio, ser o contraponto do ostracismo, sabe? Arte está aí pra transformar, arte está aí pra evoluir, arte está aí pra construir o belo”.

Para a cantora, mesmo com o ódio, buscar o amor e curar as pessoas através disso é também um papel do artista. E ela busca fazer isso com naturalidade.

“A despeito de toda a sombra, nós estamos aqui sendo luz, produzindo beleza, produzindo saber, construindo história, construindo um patrimônio imaterial. Arte é completamente o avesso do terror, o avesso da maldade, o avesso do ostracismo, da caretice e da desumanidade, porque no final que a arte busca é humanizar a gente, a arte expressa a humanidade de cada um, né”. 

Sendo vista como uma das referências e promessas da música atual, Luedji Luna é enfática em dizer sua própria avaliação sobre qual ela acredita ser seu papel na arte.

“Acho que o meu papel é só ser, só ser. Só estar sendo com plenitude, com honestidade e o resto a música e a própria arte vai cumprindo o seu papel divino”. 

Foto: Igor Boechat/Divulgação.

Show em Curitiba

A vinda a Curitiba nesta sexta-feira é a segunda passagem da cantora pela capital paranaense. Luedji lembra que quando veio pela primeira vez foi com o primeiro disco, e desde então, não voltou mais. Ela acredita que, embora a cidade esteja sendo conhecida pelo posicionamento de política “direita”, estar aqui é importante neste momento. 

“Estou muito feliz, muito. A maioria não pode dizer, não pode ditar e não pode oprimir o resto, né? Todo mundo tem que ser contemplado, e eu sei que o meu público e eu sei que quem vai me ver são pessoas amorosas, conscientes e o contrário do que essa imagem que Curitiba tem mostrado pro Brasil. Curitiba não é só isso”.

O show de Luedji Luna em Curitiba será no CWB Hall. Os ingressos custam a partir de R$ 90 (meia-entrada), de acordo com o setor, e são vendidos pelo site Bilheto.

Serviço

Luedji Luna em Curitiba
Quando: 16 de junho de 2023 (sexta-feira)
Onde: CWB Hall, na Av. Marechal Floriano Peixoto, 4142 – Parolin
Classificação etária: 18 anos
Horário: 22 horas
Quanto: ingressos a partir de R$ 90 (meia-entrada), mais taxas. Venda pelo site Bilheto.