Apesar do anúncio de 4 milhões de ingressos vendidos antecipadamente para Nada a Perder, de Alexandre Avancini, cinebiografia do bispo Edir Macedo, as sessões de cinema que foram visitadas pela reportagem nesta quinta-feira, 29, não estavam cheias.

No Espaço Itaú de Cinema da Pompeia, no shopping Bourbon, o filme foi exibido em 14 sessões espalhadas por três salas. Porém os postos de venda exibiam como ocupados assentos que na verdade estavam vagos. Na sessão das 18h, na sala 7, a única opção disponível era a primeira fileira, mas durante a exibição do longa havia apenas um espectador na segunda fileira, dois na terceira e pouco menos da metade das poltronas ficaram vazias.

Já no Cinemark do Central Plaza Shopping, a lotação foi ainda menor. Após o início da exibição do filme, havia apenas cerca de 10% dos ingressos para a sessão das 20h20, na sala 1, e somente quatro poltronas estavam indisponíveis para compra na sessão das 20h40, na sala 8. Apesar de quinta-feira ser o dia das estreias cinematográficas, havia pouco movimento próximo à entrada do cinema.

O filme ultrapassa Os Dez Mandamentos, outro trabalho de Avancini, que levava para a tela grande a novela homônima da TV Record. Na época, a adaptação da história bíblica vendeu 2,3 milhões de ingressos antes da sua estreia, em 2016. Durante o período em circuito, Os Dez Mandamentos se tornou a maior bilheteria da história do cinema nacional, com um total de 11,3 milhões de ingressos vendidos.

Nada a Perder, além de ter uma estreia já maior, leva a vantagem de ter um alcance mais amplo que Os Dez Mandamentos. São 1.108 salas pelo País (um terço da quantidade disponível no Brasil) e um número pouco maior do que a estreia do filme derivado da emissora do bispo, que estreou em 1.099 telas.

Em números absolutos, Os Dez Mandamentos ultrapassou Tropa de Elite 2 para se estabelecer no topo em 200 mil ingressos vendidos. A questão levantada, na época, apurada pelo jornal O Estado de S. Paulo, era o relato de que sessões inteiras de Os Dez Mandamentos estavam vazias e que funcionários da Universal compravam os ingressos para distribuir aos frequentadores da igreja – e, também, a fim de estabelecer o novo recorde de bilheteria.

Na época, a Igreja Universal negou tais possibilidades, assim como o faz agora. Em um comunicado à imprensa publicado no seu site, o texto acusa a “mídia” de “apelar” para as “fake news” para responder às questões sobre as salas esvaziadas, mesmo com ingressos esgotados, como ocorreu no filme anterior.

“O que existe é a mobilização espontânea de grupos e de membros da Universal, que se organizaram para que o maior número de pessoas tenha chance de assistir ao filme. Da mesma forma que os espíritas impulsionaram a audiência dos filmes Chico Xavier e Nosso Lar, bem como os católicos que lotaram sessões para acompanhar Aparecida – O Milagre. Mas, em uma pesquisa rápida, não encontramos registros deste fato como notícia”, diz o texto.

O texto, assinado pela UNIcom, nome do departamento de comunicação social e de relações institucionais da Universal afirma: “É claro que a Igreja Universal estimula seus adeptos a assistirem ao filme Nada a Perder”, diz. “Temos convicção de que, além da edificante história de vida do Bispo Edir Macedo – já contada na trilogia literária best seller que baseia o roteiro -, o longa-metragem é também a história da vida das pessoas que frequentam a Universal.”

E também se dirige diretamente aos jornalistas. “Talvez, alguns jornalistas imaginem que a Universal esteja proibida de recomendar filmes a seus fiéis. Pois chegaram tarde”, diz um trecho. Noutro, a imprensa é tratada como “rancorosa e preconceituosa”.

“Milhões de espectadores no Brasil e no mundo irão aos cinemas para ver o que a Palavra de Deus é capaz de produzir na vida das pessoas. E não há nada que a imprensa rancorosa e preconceituosa possa fazer contra isso.”

Em tempo, a compra de ingressos para grupos e fechar salas para exibições é uma prática comum entre as distribuidoras de cinema. E também não se questiona os números de venda de entradas e, sim, a presença do público nas salas de cinema. A Universal não trata do tema no comunicado.