Foto: Agência Brasil

 

A educação no Brasil ainda não atingiu um patamar adequado de qualidade. Os estudantes brasileiros na faixa de 15 anos ficaram em 55° lugar em leitura entre os 65 países analisados por um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Embora os dados expressivos também revelem que o país apresentou melhoras no sistema educacional, o abismo entre estar presente na sala de aula e se tornar um cidadão atuante ainda é vasto. Nessa lacuna está o professor, que se dedica, muitas vezes em condições questionáveis, a transformar a realidade do aluno.

Historicamente, o Brasil paga salários insatisfatórios para os professores.  Esse fato existente há anos nos sistema de ensino está relacionado à desvalorização do trabalho na educação básica, desde os primórdios da construção familiar. A especialista em educação da PUCPR Ermelina Thomacheski explica a origem desse conceito. “A profissão de educar alguém foi considerada, por um longo tempo, feminina, sobretudo porque, na visão machista da sociedade, a divisão do trabalho masculino e feminino é bem acentuada, atribuindo-se à mulher o papel de educar os filhos e, por extensão, as novas gerações.”

Entretanto, a valorização da profissão não está ligada exclusivamente à remuneração alta. Ter ciência da importância de um professor dentro da sala de aula é fundamental para a corresponsabilidade da sociedade. “Há de se salientar que existe a necessidade de uma maior valorização financeira do magistério, porém se os salários forem dobrados hoje e nada mais for feito, o efeito, mesmo que em longo prazo, seria mínimo. Precisamos valorizar o professor e um salário melhor é apenas uma consequência”, explica a especialista.

Afinal, é preciso difundir quão determinante esse papel de ser educador é para transformar estudantes em cidadãos preparados. Carteiras, livros, materiais didáticos, merenda e infraestrutura fazem nascer uma escola com boa qualidade, mas a dedicação e a preparação do professor são fundamentais para que os alunos absorvam conhecimento. Agregada a isso, uma sociedade que carece da ciência sobre a importância de um mestre na sala de aula.

Essa combinação é exatamente em que acredita o professor Célio Rodrigues Leite, que se dedicou há mais de três décadas ao quadro negro de uma escola pública em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.  “Alguns professores ainda carregam aquela imagem de que precisam ensinar muito conteúdo para os estudantes. Muitas vezes, eles cumprem um currículo estabelecido sem se preocupar com o real aprendizado de seus alunos. Acredito que poderíamos ensinar menos conteúdos, mas com mais profundidade, exigindo que nossos alunos assumissem a tarefa de aprender”, opina.

Para que aconteça uma transformação dentro da escola, Luiz Arnaldo Lagos, também professor da rede pública do Estado, acredita que a pedagogia precisa ser contextualizada à realidade que envolve o estudante e a sociedade. “Reflexões e debates poderão servir de incentivo e estímulo para que o aluno possa ser um agente da transformação. Porém, isso também deve alcançar a família. Se a educação escolar não for um valor para a família, o educando apresentará dificuldades no processo escolar.”

Entretanto, a falta de comprometimento dentro das escolas públicas é o principal apontamento crítico daqueles que se dedicam a elas. A pedagoga Ana Michelin, que já atuou há mais de dez anos como diretora do Colégio Estadual Rio Branco, no bairro Batel, em Curitiba, afirma que o maior desafio é manter cem por cento de colaboração da equipe. “Muitos chegam à escola pública sem compromisso, sem se preocupar em dar o melhor de si. Isso prejudica – e muito – o alcance do nosso maior objetivo, que é um ensino de qualidade.”

Ana questiona também as burocratizações do governo, que interferem de maneira negativa no processo pedagógico. “Transformaram-nos em administradores de repartição pública e a parte pedagógica, que é o coração da escola, ficou em segundo plano.” Embora acredite que problemas de infraestrutura não sejam contrapontos do ensino de qualidade, a diretora é mãe de dois garotos – de 12 e 14 anos – que sempre estudaram em escolas privadas.

A verdade é que a escola, para todos que a frequentam, precisa fazer parte da vida do aluno e também da família. Essa extensão de conhecimento entre casa-escola/escola-casa pode auxiliar no processo real de transformação. “O professor se torna protagonista dessa transformação do aluno na medida em que desenvolve competência técnica suficiente para adquirir credibilidade junto a ele e, ao mesmo tempo, cultivar a humildade para admitir suas limitações e seus erros dentro de uma sala”, aponta a educadora Ermelina.

O aluno precisa ser considerado como parte capaz de contribuir com o saber, mesmo que na prática social. Enquanto que, na família, a educação deve ser levada como prioridade e investimento.

Políticas públicas

Para o político Cristovam Buarque, a educação no Brasil é desprezada pelos políticos justamente por não ser prioridade para a população.  “Não acredito que seja consciente: ‘Não vamos dar uma boa educação, senão não votam na gente’. Acredito que seja desprezo mesmo. Até a própria sociedade despreza a boa educação. Aqui, no nosso país, a educação é vista como um meio e não como uma finalidade. O político destreza porque o eleitor também despreza”, critica. Cristovam Buarque já foi reitor da Universidade de Brasília e também Ministro da Educação.

Números revelam que o brasileiro tem priorizado o ensino: 73% responderam que educação é a área que mais precisa de melhorias, ficando atrás apenas da saúde, com 88%. A pesquisa foi realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em dezembro do ano passado.

Para Ermelina, as políticas públicas podem estar equivocadas ou mal implementadas. “No que concerne a educação de qualidade, é necessário ampliar a transparência na aplicação das verbas e estimular a participação da sociedade. Ou seja, fazer com que tanto os educadores quanto os demais cidadãos sejam sujeitos ativos em todas as etapas de formulação das políticas públicas: planejamento, execução e avaliação.”

O reflexo dessa alta porcentagem apontada pela pesquisa, contudo, não chega às urnas. Menos de 1% dos brasileiros considera as propostas de educação como determinantes para a escolha do prefeito da cidade, por exemplo, de acordo com o movimento Todos Pela Educação.

Cursinho

Com o mesmo denominador comum, os professores dos cursinhos preparatórios para o vestibular tornaram-se grandes incentivadores. Com o marketing dessas escolas em evidência, eles se tornam protagonistas do conhecimento e, por meio de fórmulas e aulas bem preparadas, simplificam conteúdos e dissolvem apostilas em aprendizados.

Não há como negar: professores motivados ensinam melhor. A jornalista Camila Galvão, 29 anos, sempre estudou em escolas públicas e sentiu a rotina impactante de um cursinho. “As aulas eram mais atrativas, com músicas, macetes, piadas, apresentações em slides. Além disso, éramos motivados semanalmente a desenvolver nosso potencial da melhor maneira”, lembra. No entanto, essa diferença entre o Ensino Médio público e em uma escola privada, o chamado Terceirão, Camila atribui ao desinteresse. “Eu tinha ótimos professores, mas eles sofriam com desinteresse da turma, que os deixava desmotivados a explicar o conteúdo. Em um cursinho, além de os professores contarem com uma ótima estrutura e apoio, contam com o total interesse e a colaboração dos alunos.”

A opinião da jovem recém-formada é corroborada pelo professor Elton Gruber, que há nove anos “digere” o conteúdo de forma mais simplificada nos tablados de um curso preparatório em Curitiba. “Cursinho dá certo por ser o encontro de professores bem preparados com alunos com objetivos. É preciso levar em conta que, muitas vezes, o trabalho do professor é desenvolvido quase que solitariamente, principalmente para tornar um assunto mais interessante ou criativo.” Segundo ele, o conteúdo deve ser simplificado, mas evidenciar a importância daquele determinado assunto para o desenvolvimento acadêmico.

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Afinal, o que é preciso para tornar o professor mais valorizado nas salas de aula?

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